Creio que ninguém se lembrará de algum mês de setembro ou outubro tão quentes e secos como estes... (Acrescentado em 12nov2017: e neste ano, até o novembro está a sê-lo). Quero dizer-vos que, à nossa latitude, isto pode acontecer. E a explicação é conhecida dos meteorologistas. As latitudes médias (± entre 30 e 55 graus), ao contrário das latitudes baixas (próximo do Equador) ou das altas (mais perto dos polos), não têm uma regularidade climática. Ou seja, as ditas "estações do ano" normalmente não têm início e fim exatamente na altura dos equinócios e solstícios.
Por isso, acontecem períodos mais ou menos longos (de algumas até mais de um mês), em que Portugal é atingido por uma massa de ar vinda de este, transportado por um anticiclone que se mantém estacionado a norte da Península Ibérica. Normalmente, os anticiclones movem-se (não tanto como as depressões), mas nestes casos, acontece que permanecem mais ou menos na mesma posição, impedindo que depressões, frentes e massas de ar marítimo (húmido) atinjam Portugal. Quando tal acontece, chama-se anticiclone de bloqueio...
O ar que nos atinge, transportado pela circulação desses anticiclones tem, pois, um trajeto continental, pelo que é seco. Assim, não chove por vezes durante um único dia do mês (ou eventualmente apenas aparece alguma precipitação num ou noutro dia, por acaso). E esse ar tanto pode ser relativamente quente (no princípio do outono - frequentemente - ou mesmo na primavera - mais raramente), como relativamente frio (no inverno). Neste último caso, temos geadas e gelo persistentes...
O mês de Setembro passado teve precipitação apenas nos 3 ou 4 primeiros dias. E o de outubro continuou seco até ao dia 22/23. Isto perfez um total de 7 semanas sem precipitação! O normal teria sido nesse período terem caído, em termos médios, à volta de 200 mm (l/m2) de chuva, no Norte, cerca de 100, no Centro, e pelo menos 50, no Sul... As temperaturas, no período 05set-15out, estiveram sempre bastante acima do normal: por exemplo, em Castelo Branco (em Proença terá sido muito semelhante), as máximas foram sempre superiores a 26º C, tendo chegado a cerca de 34º em setembro e 33º em outubro! Mas houve locais do país com valores de mais de 35 ou 36!...
Entretanto, finalmente choveu (e bastante) desde 22 ou 23 até 27, atingindo-se precipitações acima do normal para igual período de tempo (houve locais onde caíram mais de 100 mm). Evidentemente, teria de haver perturbações e estragos significativos (inundações, pontes submersas, queda de árvores, derrube de postes e coberturas de edifícios, estufas danificadas, encerramento de barras dos portos, etc. Com tudo isto, e como quase sempre acontece, há vítimas...)
Com a mudança de tempo, a temperatura desceu acentuadamente até valores próximos do normal ou ligeiramente abaixo e caiu o primeiro nevão, na Serra da Estrela e noutras serras mais altas do Norte.
Então voltou a confirmar-se o provérbio que diz que Setembro (e mesmo Outubro) "seca fontes" ou "leva pontes"... Primeiro houve seca/calor; depois, inundações/estragos!...
Como complemento do que disse (e não só), lembrei-me dalgumas conclusões com que fiquei quando fiz um estudo climático de diversos aeródromos de Portugal, desde meados do século passado:
- Há anos em que, no período normalmente mais favorável à ocorrência de chuva (outono, inverno e primavera), durante um mês inteiro (ou até ligeiramente mais), as precipitações são nulas ou muito pequenas (inferiores a 10 mm), especialmente nas regiões do Centro e do Sul;
- A temperatura máxima extrema anual costuma ocorrer em julho ou agosto, mas também se tem verificado em junho ou setembro;
- Em alguns anos, o final de março e, mais frequentemente, abril e/ou maio também têm temperaturas altas...
Lembro-me de, por exemplo: 38º C em Lisboa, num 13 de maio (de 1978 ou 1979); 30º, no fim de março - (algumas pessoas mais idosas afirmam que, por volta de 1970, estiveram perto de 40º no fim de março, mas não pude confirmar). Também me lembro de estar a nevar na Serra da Estrela, num dia 10 de junho; houve um ano, (no final dos anos 70 ou princípio de 80) em que choveu todos os dias de Junho, na nossa aldeia (trovoadas de origem térmica) - até o meu pai não se cansava de falar disso, pois os ribeiros e ribeiras não deixaram de correr...
Finalmente, também me lembro dos mais antigos dizerem que foi depois da II Guerra Mundial (1939-1945), ou mais ou menos por volta de 1950, que o tempo "começou a andar descontrolado"...
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Acrescentado em 03nov:
Se calhar, vem a propósito um pouco de humor, relativo à muita chuva que tem caído (desde 22out até hoje, 03nov):
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Acrescentado em 04mar2012:
O resto do Inverno foi de uma secura alarmante! Quarenta e tal dias sem chuva, em quase todo o país: de meados de janeiro até aos primeiros dias de Março... As reservas de água (barragens/albufeiras) só não estão pior porque houve precipitação abundante no período 22out a 23nov...
Por isso, acontecem períodos mais ou menos longos (de algumas até mais de um mês), em que Portugal é atingido por uma massa de ar vinda de este, transportado por um anticiclone que se mantém estacionado a norte da Península Ibérica. Normalmente, os anticiclones movem-se (não tanto como as depressões), mas nestes casos, acontece que permanecem mais ou menos na mesma posição, impedindo que depressões, frentes e massas de ar marítimo (húmido) atinjam Portugal. Quando tal acontece, chama-se anticiclone de bloqueio...
O ar que nos atinge, transportado pela circulação desses anticiclones tem, pois, um trajeto continental, pelo que é seco. Assim, não chove por vezes durante um único dia do mês (ou eventualmente apenas aparece alguma precipitação num ou noutro dia, por acaso). E esse ar tanto pode ser relativamente quente (no princípio do outono - frequentemente - ou mesmo na primavera - mais raramente), como relativamente frio (no inverno). Neste último caso, temos geadas e gelo persistentes...
O mês de Setembro passado teve precipitação apenas nos 3 ou 4 primeiros dias. E o de outubro continuou seco até ao dia 22/23. Isto perfez um total de 7 semanas sem precipitação! O normal teria sido nesse período terem caído, em termos médios, à volta de 200 mm (l/m2) de chuva, no Norte, cerca de 100, no Centro, e pelo menos 50, no Sul... As temperaturas, no período 05set-15out, estiveram sempre bastante acima do normal: por exemplo, em Castelo Branco (em Proença terá sido muito semelhante), as máximas foram sempre superiores a 26º C, tendo chegado a cerca de 34º em setembro e 33º em outubro! Mas houve locais do país com valores de mais de 35 ou 36!...
Entretanto, finalmente choveu (e bastante) desde 22 ou 23 até 27, atingindo-se precipitações acima do normal para igual período de tempo (houve locais onde caíram mais de 100 mm). Evidentemente, teria de haver perturbações e estragos significativos (inundações, pontes submersas, queda de árvores, derrube de postes e coberturas de edifícios, estufas danificadas, encerramento de barras dos portos, etc. Com tudo isto, e como quase sempre acontece, há vítimas...)
Com a mudança de tempo, a temperatura desceu acentuadamente até valores próximos do normal ou ligeiramente abaixo e caiu o primeiro nevão, na Serra da Estrela e noutras serras mais altas do Norte.
Como complemento do que disse (e não só), lembrei-me dalgumas conclusões com que fiquei quando fiz um estudo climático de diversos aeródromos de Portugal, desde meados do século passado:
- Há anos em que, no período normalmente mais favorável à ocorrência de chuva (outono, inverno e primavera), durante um mês inteiro (ou até ligeiramente mais), as precipitações são nulas ou muito pequenas (inferiores a 10 mm), especialmente nas regiões do Centro e do Sul;
- A temperatura máxima extrema anual costuma ocorrer em julho ou agosto, mas também se tem verificado em junho ou setembro;
- Em alguns anos, o final de março e, mais frequentemente, abril e/ou maio também têm temperaturas altas...
Lembro-me de, por exemplo: 38º C em Lisboa, num 13 de maio (de 1978 ou 1979); 30º, no fim de março - (algumas pessoas mais idosas afirmam que, por volta de 1970, estiveram perto de 40º no fim de março, mas não pude confirmar). Também me lembro de estar a nevar na Serra da Estrela, num dia 10 de junho; houve um ano, (no final dos anos 70 ou princípio de 80) em que choveu todos os dias de Junho, na nossa aldeia (trovoadas de origem térmica) - até o meu pai não se cansava de falar disso, pois os ribeiros e ribeiras não deixaram de correr...
Finalmente, também me lembro dos mais antigos dizerem que foi depois da II Guerra Mundial (1939-1945), ou mais ou menos por volta de 1950, que o tempo "começou a andar descontrolado"...
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Acrescentado em 03nov:
Se calhar, vem a propósito um pouco de humor, relativo à muita chuva que tem caído (desde 22out até hoje, 03nov):
Acrescentado em 04mar2012:
O resto do Inverno foi de uma secura alarmante! Quarenta e tal dias sem chuva, em quase todo o país: de meados de janeiro até aos primeiros dias de Março... As reservas de água (barragens/albufeiras) só não estão pior porque houve precipitação abundante no período 22out a 23nov...
E as perspetivas para este mês não são animadoras!... Vá seguindo as observações/previsões, clicando nas ligações da barra lateral direita do blogue, em "INFORMAÇÃO DO TEMPO".
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Nota: Estes dados são muito superficiais. Comparem com os dados divulgados pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera - ver o seu site (www.ipma.pt), no separador "Clima".
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Nota: Estes dados são muito superficiais. Comparem com os dados divulgados pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera - ver o seu site (www.ipma.pt), no separador "Clima".