terça-feira, 31 de julho de 2012

Feira da Tigelada - 2012



Vistas do nosso "stand".

Realizou-se, no passado fim de semana (dias 28 e 29jul), mais uma Feira da Tigelada, em Proença. A LAVRAR - Liga dos Amigos do Vale da Carreira participou, com o empenho das já habituais pessoas residentes na aldeia, a quem cabe manifestar os nossos agradecimentos...  

No site do Município (www.cm-proencanova.pt), foi publicada notícia com o título "Teatro e história na Feira da Tigelada", da qual transcrevemos uns excertos:

"Realizada no Mercado Municipal, a Feira da Tigelada contou com a adesão das associações e mostrou as diferentes receitas e variações com o doce mais típico do concelho."

"Para assinalar os 500 anos da atribuição do foral manuelino à Vila Melhorada, o grupo de teatro Váatão recriou figuras quinhentistas no recinto da feira, terminando a animação com uma leitura adaptada do foral."  

Figuras quinhentistas passeando-se...

"Além da animação de época, para recordar o foral manuelino foi distribuída uma brochura com a transcrição dos dois forais atribuídos a Proença, com um enquadramento histórico feito pelo professor António Manuel Silva."

"Seguiu-se a apresentação de um livro sobre o ciclo do linho, da autoria de Manuel Lopes Marcelo." "No livro “Bailado de sonho – As voltas do linho”, são transcritas as músicas e letras de 15 cantigas relacionadas com o linho. Cinco delas foram interpretadas por elementos do Rancho Folclórico de Aranhas, no concelho de Penamacor, terra natal de Lopes Marcelo. Lembrando a importância que a temática do linho tem na nossa região, o presidente da Câmara, João Paulo Catarino, elogiou o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo autor, “defensor das nossas raízes”."

A animação contou ainda com "karaoke, com o microfone aberto a todos os que quiseram contribuir para a diversão e soltar a música."

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NB: As fotos acima são do Jorge Alves (Tesoureiro da LAVRAR). Obrigado, primo.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Noutros tempos... (2)

5 - As tulhas e o lagar:

A azeitona, depois de apanhada e já limpa das folhas, era transportada para próximo dos lagares. Havia dois lagares: o de Cima, junto ao cruzamento da Bairrada/Pracana/Carvoeiro (M537), e o do Baixo, depois (abaixo) do Mesão Frio. Aí, cada família possuía uma tulha onde a azeitona era depositada, aguardando que chegasse a sua vez de ser moída. Neste espaço de tempo, que podia ser de várias semanas, aí era conservada, compactada.

Cada tulha tinha uma largura que variava de cerca de metro e meio até 4 ou 5 metros. Era construída em pedra comum da zona (xisto) e, às vezes, revestida de cimento. No fundo, possuía um pequeno buraco por onde escorria alguma "albufeira", que se formava pelo facto da azeitona estar apertada...

Tulhas do Lagar de Cima (entre o Vale da Carreira e o Mesão Frio)
Créditos de Museu Nacional de Etnologia e Benjamim Pereira


Tulhas do Lagar de Baixo - Mesão Frio, algumas ao abandono
 (foto de Gracinda Tavares Dias)

As sacas eram despejadas uma a uma e, com o auxílio dos pés e dum maço de madeira, era bem calcada. No final, colocavam-se por cima algumas pedras grandes (por vezes em cima de ceiras).

Quando chegava a altura de ser moída, retiravam-se as pedras. Depois enchiam-se cestos e levava-se a azeitona para um local próximo do pio/galgas, onde era gradualmente despejada. Nalguns lagares isso era feito para uma área superior do lagar. Daí saía uma rampa própria, por onde escorria a azeitona, à medida que o lagareiro o desejava...


O pio com as galgas, à espera da próxima moagem... 
(foto do blogue de Gracinda Tavares Dias)

No interior do lagar, o lagareiro e seu(s) ajudante(s) executam uma série de tarefas, das quais salientamos: moer (lançar a azeitona no pio, onde as galgas rodam e a calcam); enceirar (colocar a massa/pasta resultante dentro das ceiras); prensar (apertar/espremer hidraulicamente as ceiras empilhadas no vagão); vigiar o azeite que vai saindo da prensa para as talhas/tarefas (adicionando água quente da caldeira sobre as ceiras na prensa e ir purgando para retirar a albufeira, etc.).






Depois de descido o vagão da prensa, há que desenceirar, isto é, retirar o bagaço das ceiras que foram apertadas. Esse bagaço servia para alimento dos porcos (ver abaixo, sobre a vianda)...

Como últimas tarefas, temos a medição do azeite, verificar a sua acidez e, por fim, fazer a maquia (retirar algum azeite para ficar em posse do lagar, como pagamento do trabalho efectuado)...


 
   


6 - A vianda dos porcos:

Creio que todos conhecerão a palavra vianda, que significa a comida para os porcos preparada com restos das refeições das pessoas, podendo ser adicionados outros ingredientes. Na nossa terra, os porcos eram alimentados com esses restos aos quais, muitas vezes, se adicionava farinha, para a mistura ficar mais forte...


Além destes restos, os porcos eram também alimentados com abóboras, chilas, beterrabas, batatas (completas ou só as cascas), couves e outras hortaliças. E, enquanto havia, bagaço de azeitona. Este bagaço era trazido do lagar para junto de casa.  Era despejado numa tulha, onde era calcado para se conservar até ir servindo para adicionar nas viandas. 


No final do Verão, os figos das figueiras faziam as delícias dos animais... No princípio do Inverno, eram ainda alimentados com landes e bolotas varejadas dos sobreiros e azinheiras, mas como estas árvores começaram a escassear, há muito isso caiu em desuso... 

7 - Vinho, vinagre, jeropiga e aguardente:

Tanto quanto me parece (ou me lembro, de pequeno), antes da década de 1970, não era comum que em cada família da nossa aldeia se fizessem vinho, vinagre, aguardente ou jeropiga. Não havia essa "cultura do vinho", isto é, quase ninguém cultivava videiras em quantidade suficiente, nem o regime político existente (ditadura) o facilitava/incentivava. Pelo contrário, havia até uma perseguição à feitura caseira dessas bebidas...

Mas, depois do 25 de abril, tudo mudou: começaram a plantar-se videiras em praticamente todas as hortas. Nalguma divisão da casa ou anexo, quase todos arranjavam uma pequena adega, onde ficava um ou mais pipos (normalmente eram de madeira). Construíram também locais próprios para pisar as uvas: lagares. À medida que era feita a pisa, o mosto era retirado para os pipos. E aí era feita a fermentação do resto do mosto com as cascas e grainhas (bagulho), durante cerca de 9 dias e, depois, fazia-se a aguardente, no alambique comunitário (ver artigo de out2010).

Uns dias antes da apanha das uvas, o(s) pipo(s) era(m) posto(s) na rua, e a madeira era forçada a inchar, com água abundante, até estar bem vedado e poder receber o mosto.

O mosto da pisa das uvas era posto a fermentar nos pipos, adicionando-se um pouco de aguardente. Durante cerca de 2 a 3 meses, aí ficava a fermentar até "desdobrar", isto é, o mosto deixava de ser adocicado e se transformava em vinho. Havia quem lhe juntasse um pouco de fruta (maçã, amoras..), na parte final, para dar aroma...

Por vezes, acontecia que o mosto não desdobrava mas azedava: em vez de vinho, fazia vinagre. Era uma chatice (!), mas sempre se conseguia vender ou dar algum aos vizinhos, que quase sempre ficavam satisfeitos por não necessitarem de o comprar nas mercearias...

Na nossa casa (e em muitas outras), à saída da pisa, era costume a mãe fazer jeropiga. Numa garrafa quase cheia de mosto era adicionada alguma aguardente (mais ou menos na proporção de 3 para 1) e, se o mosto não for muito doce, um pouco de açúcar... Pouco tempo depois (cerca de um mês), essa bebida podia ser consumida, principalmente para aquecer as gargantas, nas manhãs frias de outono...

8 - Uvas e marmelos dependurados pela casa:

Era costume, nas nossas casas, conservar uvas durante mais uns meses, após a vindima, dependurando-as nos tectos das lojas ou salas (quanto mais fresca a divisão, melhor). Também se fazia o mesmo com os marmelos. (...)

(Nota: maior desenvolvimento deste assunto em artigo de 26jun2013)


9 - Arado, charrua e grade:

Toda a gente sabe o que é um arado e para que serve. No entanto, nem todos (principalmente os mais novos) tiveram a possibilidade de observar os tipos de arado usados na nossa aldeia.

Como os solos das nossas terras contêm geralmente uma pequena camada arável, os arados/charruas eram muito simples, quando comparados com outras zonas do país. Possuíam apenas um espigão ou bico (relha) e uma cauda (rabiça), que o lavrador segura pela mão. À frente, para ajudar a deslizar no solo, uma pequena roda. Os mais antigos eram totalmente de madeira, sem roda, claro. (Ainda me lembro deles). Depois surgiram os de metal/ferro. Nestes, a relha (parte afiada que rasga a terra) era aparafusada e substituída quando ficava muito desgastada ou se se partia, o que às vezes acontecia devido a alguma rocha ou até raiz de árvore mais firmes...

Depois de lavradas as terras das hortas, para ajudar a apanhar restos de ervas ou para desfazer as irregularidades deixadas (cômaros), passava-se com uma grade por cima. A grade podia também ser de ferro ou madeira, tinha pequenos dentes e era usada tanto com os dentes virados para baixo ou para cima, consoante o estado do terreno que se queria "agradar" (gradar)...

Para aumentar o peso do utensílio, usava-se às vezes pedras ou lajes por cima, principalmente se era de madeira, mais leve. Ou, então, o peso de quem andava a lavrar, guiando o animal com as rédeas viradas para trás, mais compridas...