Antigamente, na nossa aldeia, o Entrudo (que significa "entrada na Quaresma", ou Carnaval = "adeus à carne"), era vivido de forma muito simples, genuína e divertida, talvez mais do que agora. Não havia tentativas de imitar outros de outras paragens, pois não se via TV, nem se liam jornais, etc.
Na manhã desse dia, os homens juntavam-se e iam arranjar os principais caminhos que partiam da aldeia para os campos (da estrada até à eira; desta até ao Vale do Russinho; do Fundo do Lameiro até Bouça Enxuta; da Conecril até Pernadinhas e Vale das Ovelhas; etc.). Com as chuvadas do inverno, os caminhos degradavam-se, abriam regueiras, pelo que era preciso recolocar terra, pedras, desviar águas, etc... Assim ficariam mais transitáveis para o período de primavera/verão, em que seriam mais usados...
Em muitas das famílias, por grande influência da religião (ia entrar-se na Quaresma, período de jejum e abstinência que antecede a Páscoa), nesses dias, entre o Domingo, o chamado "Domingo-Gordo", e a terça-feira, dia do Entrudo, fazia-se o "adeus à carne". Assim, o almoço devia ter por base a carne de porco. Fosse um cozido com couve, toucinho, bucho, etc., ou grão cozido com massa e couve, cabeça, chispe e rabo de porco (uma espécie de rancho, à nossa moda)...
Na parte da tarde desse dia, já não se costumava trabalhar: as pessoas dedicavam-se às brincadeiras/ partidas de Entrudo/Carnaval.
Começo por referir que não havia grandes vestimentas, disfarces ou apetrechos. Era muito frequente as raparigas e os rapazes vestirem-se com roupas velhas e andarem pela aldeia, pregando partidas uns aos outros.
Uma das formas de divertimento era "mascarrar" os outros com as mãos, negras de fuligem do forno do pão, após se terem esfregado nas paredes deste. Depois corria-se atrás de uns e outros até lhes "pintar" a cara. (Às vezes quem pagava era a roupa, por isso se devia andar mais mal vestido...) Atirar água e farinha era outra das formas de "abordar" alguém...
Apesar de parecer que essas formas de passar o dia poderiam trazer consequências negativas, tal não acontecia. Em vez disso, era fortalecido o espírito de convívio entre toda a aldeia, a alegria reinava e todos se distraiam e divertiam. Às vezes o contacto pessoa a pessoa "ajudava a quebrar algum gelo" e mais as pessoas se aproximavam. Casos houve em que alguns começaram a namorar após essas partidas: "- Aleijaste-me!" "- Desculpa, foi sem querer!"... "Para fazer as pazes, dá cá/toma lá um beijinho..."
E assim se passava normalmente toda a tarde do dia de terça-feira. Pois o Entrudo resumia-se unicamente a esse dia, e não aos anteriores. Só mais recentemente se começou a usar o ditado "a vida são dois dias e o Carnaval são três"; por isso divirta-se!
Caro Zé Luís.
ResponderEliminarEm complemento às tradições do entrudo, na nossa terra, talvez seja importante referir que, na terça-feira, de manhã, os homens juntavam-se para repararem os caminhos (não sei se te lembras?..). O almoço, nesse dia, pelo menos em minha casa, era sempre grão cozido com massa e couve, cabeça, chispe e rabo de porco (uma espécie de rancho, sem guisado inicial.
Um abraço do teu primo Fernando Alves
Obrigado, primo Fernando.
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