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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Setembro (e/ou outubro ou novembro) "seca as fontes ou leva as pontes"...

Lembrei-me de escrever umas linhas sobre o mês de setembro (e mesmo os restantes meses do outono), que um ditado acusa de secar as fontes ou levar as pontes! A razão deste artigo tem a ver com o facto deste ano estarmos a ter um setembro com bom tempo (seco e quente), se comparado com a média para esta altura do ano. Quem tirou férias este mês está com sorte!... As uvas e outros frutos com apanha para esta altura terão maturado bem, terão mais açúcar...

Embora talvez as pessoas não se lembrem, isto não é assim tão excecional: acontece em certos anos praticamente não chover em setembro. Mas noutros anos, começa o tempo chuvoso (às vezes ainda em agosto) e quase não deixa de chover durante todo o mês. As latitudes médias (digamos entre os 30 e os 50 graus) têm destas coisas. E não há previsão a médio prazo que confirme isto ou aquilo... Já agora, anda por aí o boato de que quase não vai chover até ao fim do ano!!! Até dá para rir! Eu cá não acredito nisso; veremos, quando a chuva chegar...

De facto, é mais habitual por esta altura já terem começado as chuvas do final do verão, princípio do outono. Ou seja, é costume já haver passagem de frentes (sistemas frontais), que se deslocam da zona dos Açores para o centro da Europa. Ou, então, depressões vindas do lado das Canárias/Madeira (e, mais raramente, do Mediterrâneo ocidental) em direção ao sul da Península Ibérica (e Mediterrâneo sul ou mesmo norte de Marrocos).

A primeira dessas situações meteorológicas costuma provocar chuva, estendendo-se de norte para sul (ou do  litoral para o interior), às vezes já em quantidades apreciáveis... Os primeiros 3 a 4 dias deste mês tiveram uma situação dessas: em locais de Trás-os-Montes, no dia 1, a precipitação chegou a ser de mais de 30 litros/m2 (ou mm) em apenas uma hora.

A segunda dessas situações, especialmente se associada a depressões com ar muito frio, em altitude (as também apelidadas de "cut-off lows" ou "DANA/DINA") desencadeia trovoadas e aguaceiros, por vezes muito fortes, com maior incidência no interior sul e centro do país. Assim como no sul e este/sueste de Espanha (ver publicação de 01nov2024)...

A precipitação é de tal modo abundante, às vezes em intervalos de tempo reduzidos, que chega a fazer grandes estragos, transbordando rios e ribeiras, danificando pontes e caminhos, etc... Chega a haver precipitações de algumas dezenas de mm (e até mais de cem) durante 24 horas... Daí vem a expressão "leva as pontes"!

Os cursos de água chegam a transbordar, por vezes com grandes danos...

Se, porventura, nesta altura do ano, o anticiclone dos Açores permanecer, durante semanas, a estender-se em crista pelo norte da Península Ibérica, impede que as frentes atinjam o país. O vento sopra, predominantemente, do quadrante este, do interior de Espanha; logo, é mais seco e quente... E, se não houver desenvolvimento de depressões (de origem térmica ou sub-tropicais), a sul, não haverá instabilidade atmosférica, logo não haverá precipitações. Quando tal acontece, a somar a todo o período de verão anterior, as nascentes de água vão-se acabando e a seca chega... Daí a expressão "seca as fontes"!

Ficam secas as fontes...

É o caso do presente ano, embora de forma não muito acentuada, porque tivemos precipitações nos primeiros dias do mês, como se disse antes, e ainda porque os meses anteriores, de verão, tiveram temperaturas mais amenas ou alguma precipitação, o que não é frequente... Se até ao fim do mês não chover, a situação agravar-se-á... E quando se propaga para outubro, é ainda pior... (Anotação feita em 01out: Na verdade, não choveu e a primeira quinzena de outubro vai pelo mesmo caminho. Logo, a situação está a piorar: atenção aos incêndios, à falta de água nas nascentes, etc...)

Mas, pelo menos, as vindimas estão com sorte... Por norma, se as uvas forem apanhadas com tempo seco, a produção é menor mas de melhor qualidade. Quanto às sementeiras de outono, lembro-me bem de, às vezes, o meu pai as querer fazer e não haver chuva nem sinais dela! Já ele e os antigos diziam: não vale a pena ter pressa; ela sempre há de vir...


Aspecto dos solos, devido à secura...

Um outro ditado que tem muito a ver com este aqui tratado é: "de Espanha (ou de leste), nem bom vento nem bom casamento!" Precisamente porque o ar vindo desse quadrante é frio ou muito frio, no inverno, e quente ou muito quente, no verão (vento suão).

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- Acrescentado em 23out:

Aí está a chuva! Já houve uma amostra nas regiões do interior, entre a tarde de ontem e a manhã de hoje, como se pode ver no mapa abaixo. - (precip. em mm ou l/m2 / .8 significa 8 décimos de mm) - Para a tarde de hoje (dia 23) e durante a próxima noite, vai haver precipitação mais abundante, em todo o continente.


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- Acrescentado em 24out:  

Eis agora o mapa de precipitação nas últimas 24 horas, entre as 06h de ontem e as 06h de hoje. Foi intensa e a quase totalidade ocorreu durante a noite...

(fonte: http://www.weatheronline.co.uk)

- Acrescentado em 26out: - Adaptado do site do Instituto de Meteorologia (IM):


Salientam-se os valores de precipitação acumulada entre as 18 UTC do dia 23 e as 06 UTC do dia 24out: Viana do Castelo com 95mm, Guarda com 65mm, Penhas Douradas com 60mm, Castelo Branco com 66mm, e Proença-a-Nova com 77mm.

     

- Acrescentado em 30out:

A propósito de valores mais ou menos anormais, registados nestes dois últimos meses, aqui ficam valores climatológicos extremos de Portugal Continental (desde que há registos em Portugal), obtidos do site do IM:


Nota acrescentada em jan/2019Os valores extremos podem ir sendo ultrapassados, com o decorrer dos anos. Como exemplo, * o maior valor da rajada de vento passou a ser de 176,4 km/h (na Figueira da Foz, em 13out2018, com o Furacão/tempestade Leslie) - ver art. de 14out2018.

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- Acrescentado em 01nov2024:

Veja também a publicação de hoje, a propósito das inundações em Espanha, consideradas as maiores deste século: com cerca de duas centenas de mortos... Mais se confirma que os meses de outono (setembro a novembro) podem trazer enormes quantidades de precipitação, em poucas horas: trovoadas intensas, que provocam inundações e devastação elevada, com grande risco para a vida...

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