As inundações de outono voltaram à Península Ibérica! Aconteceram nos últimos dias (29 a 31out), em Espanha (primeiro, mais acentuadamente, na região de Valência e, depois, na Andaluzia - com valores diários de centenas de milímetros de precipitação - o equivalente à quantidade total de um ano, para a região, em poucas horas! - e causaram muita devastação e mais de 200 mortos - "teme-se que os números aumentem bastante, devido ao número de desaparecidos")...
Estas inundações fizeram-me lembrar as cheias na região de Lisboa, em novembro de 1967 (várias centenas de mortos, que podem ter chegado a 700 - o regime político da altura impediu/abafou o cabal esclarecimento da catástrofe).
Como já abordei aqui, em diversas publicações, e particularmente na de 19set2011, com o título "setembro (e/ou outubro ou novembro) seca as fontes ou leva as pontes", esta época do ano (o outono) é favorável ao desenvolvimento de grandes trovoadas e inundações, especialmente na parte sul da Península Ibérica.
Agora aconteceu em Espanha, estando as inundações a ser consideradas as maiores deste século...
Eis uma ideia das quantidades de precipitação (os valores foram muito superiores aos do mapa: foram publicados valores de mais de 400 mm, em certas localidades da Comunidade de Valência):
Fonte: meteonews.fr
Quando a atmosfera está quente a níveis baixos (por vezes ajudada por águas "quentes", nomeadamente do Mediterrâneo ocidental ou do Atlântico, a sudoeste da Península Ibérica) e se lhe junta ar muito frio a níveis altos, origina-se elevada "instabilidade atmosférica", que potencia o crescimento de grandes nuvens de desenvolvimento vertical (cumulonimbos). Essas situações meteorológicas são designadas de "gota fria", "depressão cut-off" ou "DANA/DINA" (ver o que é - aqui). E são típicas dos meses de outono. Embora, felizmente, só atinjam níveis de catástrofe/calamidade muito raramente...
A consequência é a queda de imensa chuva (ou granizo/saraiva) nalgumas zonas ou locais, em períodos pequenos de tempo. A algumas dezenas de quilómetros quase nem choveu e nessas foi "um dilúvio"... A escorrêcia dos solos é muito rápida, transbordando os cursos de água. Zonas de construção, em que os solos ficam impermeáveis, potenciam o risco de inundações...
No Continente de Portugal, as zonas com maior precipitação, associada a esta situação meteorológica, têm sido o sotavento Algarvio e, embora menos, as outras regiões fronteiriças do Alentejo e Beiras, incluindo as zonas montanhosas destas.
Precipitação do dia 31out.
Sobre as inundações na região de Lisboa, em novembro de 1967, leia aqui.
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