Não resisti a copiar esta poesia que vi no Facebook. É para se meditar, hoje que é Dia de Natal e em tempo de crise (qual crise?!)...
"NATAL DE QUEM?
Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru,
das rabanadas.
- Não
esqueças o colorau!
O azeite
e o bolo-rei!
- Está
bem, eu sei!
- E as
garrafas de vinho?
- Já vão
a caminho!
- Oh mãe, estou pra ver
Que prendas vou ter.
Que
prendas terei?
- Não
sei, não sei...
Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O
Deus-Menino
Murmura
baixinho:
- Então
e Eu,
Toda a
gente Me esqueceu?
Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há
sinal da cruz,
Nem
oração ou reza.
Tilintam
copos e talheres.
Crianças,
homens e mulheres
Em
eufórico ambiente.
Lá fora
tão frio,
Cá
dentro tão quente!
Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então
e Eu,
Toda a
gente Me esqueceu?
Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam
os barulhos
Com mais
oferendas.
Amontoam-se
sacos e papeis
Sem
regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então
e Eu,
Toda a
gente Me esqueceu?
O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um
vai transportar
Bem-estar
no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então
e Eu,
Toda a
gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do
princípio ao fim,
Quem se
lembrou de Mim?
Não tive
teto nem afeto!
Em tudo,
tudo, eu medito
E
pergunto no fechar da luz:
- Foi este o
Natal de Jesus?!!!"
(João Coelho dos
Santos in “Lágrima do Mar” - 1996)