domingo, 25 de dezembro de 2011

Para meditar: Natal de quem?

Não resisti a copiar esta poesia que vi no Facebook. É para se meditar, hoje que é Dia de Natal e em tempo de crise (qual crise?!)...

"NATAL DE QUEM?

Mulheres atarefadas 
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.
- Não esqueças o colorau!
O azeite e o bolo-rei!
- Está bem, eu sei!
- E as garrafas de vinho?
- Já vão a caminho!
- Oh mãe, estou pra ver 
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?
- Não sei, não sei...
Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!
Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu, 
Toda a gente Me esqueceu?
Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive teto nem afeto!
Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
- Foi este o Natal de Jesus?!!!"

(João Coelho dos Santos in “Lágrima do Mar” - 1996)

sábado, 24 de dezembro de 2011

Parabéns pelos 90 anos, Tia Conceição!

A Tia Conceição, a segunda valecarreirense mais idosa ainda viva, acabou de completar os 90 anos! Aqui vão os nossos parabéns. Desejamos que continue a somar anos e anos, com saúde e na presença de todos os seus...

O texto que segue é da autoria do seu filho Fernando, a quem agradeço:

"A Tia Conceição (Mendes/Alves) completou, no passado dia 14 de Dezembro, noventa anos de idade. Os seus filhos, netos e bisneto não quiseram deixar passar a data em branco e no dia 17 seguinte fizeram uma festa convívio no Vale da Carreira. Foi um dia muito especial de agradecimento a Deus pelo dom da vida e de grande confraternização. A única irmã viva da Tia Conceição (Tia Rosário do Vergão) esteve, igualmente, presente, para grande alegria de todos. A Tia Lurdes Alves (cunhada), residente no Vale da Carreira, também se associou aos sobrinhos, no acontecimento de grande significado familiar. Desejamos à aniversariante as maiores felicidades e que continue, por mais anos, a acompanhar a numerosa família que gerou com o seu falecido e inesquecível marido Francisco Alves."

Para recordar, seguem 2 fotos alusivas à efeméride...

A aniversariante.

A Tia Conceição, a Tia Lurdes e a Tia Rosário a "petiscar"...


Ah, agora permitam que diga mais alguma coisa: Tia, gostamos sempre de a ouvir a construir belas frases em verso, o que muito nos surpreende. Para rivalizar consigo, aqui vai:

Muitos parabéns, querida tia
Aqui deixo à minha maneira
A você que é a melhor poeta
Do belo Vale da Carreira.

Tia, nunca a vou esquecer
Foi sempre p´ra mim uma mãe
É das pessoas mais amigas
Que a nossa família tem.

O objetivo agora
É chegar à centena;
Com saúde e alegria
Assim vale a pena!...


Beijos e até breve...
Zé Luís

-/-/-/-/-


Editado em mar2015: Infelizmente, a Tia Conceição acabou de partir, aos 93 anos... Era a mais idosa de todos os valecarreirenses. Que descanse em paz!...

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ande o frio por onde andar...

Lembrei-me hoje de escrever sobre o ditado popular (provérbio) muito conhecido "Ande o frio por onde andar, pelo Natal cá vem parar".

Uma das razões que me levaram a escrever sobre isto tem a ver com o tempo relativamente ameno que temos tido desde o final do verão. De facto, tivemos setembro e a primeira parte de outubro com tempo seco e temperaturas bem acima do normal. Depois choveu bastante, no final de outubro. E mais recentemente, a chuva voltou a afastar-se: desde 22nov até 09dez não choveu; depois choveu pouco de 10 a 16dez...

Assim, o tempo frio quase ainda não apareceu. Nas regiões do litoral ou próximo, ainda as temperaturas não baixaram dos 6 a 8 graus e, no interior, apenas em alguns pontos mais altos e no interior das Beiras e Trás-os-Montes, a temperatura já foi negativa... É normal, em quase todos os anos, por esta altura em minha casa já se ter acendido a lareira, mas este ano ainda não foi preciso!...

Sabe-se que a natureza (plantas, animais...) agem em função dos valores do tempo/clima. Com este tempo ameno e incaracterístico, algumas árvores, plantas, vegetação rasteira, etc. ficaram "baralhadas": foi como se estivessem já na primavera! Vejam aqui umas fotos, tiradas entre os dias 22dez e 22jan, em Massamá:

 
 Uma figueira, que já há semanas começou a ganhar folhas e figos!...

Uma acácia pujante, quase a florir...

Laranjeiras em flor...

 Alecrim em flor e ervas em crescimento, sem sinais de frio...

Ervas e arbustos floridos por todo o lado...

Mas este tempo ameno não vai continuar, pois, como diz o ditado a que se faz referência, vem aí um maior arrefecimento, pelo que as temperaturas vão descer, o frio acentuar-se. Com ele, aumentarão as geadas e o gelo (pela madrugada).

Agasalhe-se, pois. E cuidado com o piso escorregadio!... Veja as previsões, usando as ligações na barra do lado direito do blogue...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A sesta

Dormir a sesta toda a gente sabe o que é. Mas esse hábito de "passar pelas brasas", depois do almoço, era antigamente muito mais frequente do que agora.

Na nossa aldeia (e em toda a região, aliás como acontece no interior de quase toda a Península Ibérica e mesmo em muitos outros países), era quase um ritual sagrado: tinha de se dormir a sesta, depois do almoço, no período do verão. Servia tanto para recuperar de noites mal dormidas (devido ao calor sentido dentro de casa, pois não havia aparelhos de ar-condicionado ou ventoinhas, como agora), como pelo facto das pessoas se levantarem normalmente cedo (para trabalhar nas horas mais frescas). Por isso, as pessoas sentiam necessidade de dormir a sesta.

Não só os pais dormiam a sesta, mas também os filhos... Alguns chegavam a fugir de casa, sorrateiramente, e ir "para o pulo", em vez de descansar...

A sesta começava mal chegava o calor do Verão (às vezes logo em Maio, mas principalmente a partir do princípio de Junho). O final do período de sesta coincidia com a Feira de Setembro, na Sobreira Formosa (dia 8). Lembro-me do meu pai dizer muitas vezes que esse era o último dia de sesta, pois os nossos antepassados seguiam à risca essa tradição!

Antigamente, era hábito dormir-se/descansar-se durante 1 hora ou mais, depois do almoço. Há quem opine, hoje em dia, que a duração da sesta não deve exceder os 20/30 minutos. Mas é meu entender que isso apenas se aplica a quem não passa pelos rigores do verão, como acontece por estas bandas...

Para complemento deste assunto, recomendo que visite a ligação seguinte, em castelhano, com o título (traduzido) "A sesta, um prazer recomendado que pode ser contraproducente se se prolonga demasiado":


Depois de ler esse excerto, pode visitar também outras partes do artigo... (Se não as acha, use a ligação anterior e substitua apenas o número 4 por 1, 2 ou 3)

Agora, talvez concorde que é bom recuperar ou, pelo menos, não deixar acabar os bons hábitos, como este de dormir a sesta...

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A primeira TV na aldeia

Deve ter sido em 1976... Estava eu na tropa, em Tancos, mais o Zé Joaquim e fomos um dia a uma loja de eletrodomésticos, em Vila Nova de Ourém (onde havia venda de material barato, que se dizia ser "de contrabando"). Aí adquiri um rádio/leitor para o carro ("Mini Clubman"), que tinha comprado há pouco, e uma televisão.

A TV era pequena e funcionava a bateria, pois ainda não havia eletricidade no Vale da Carreira... Quando a carga da bateria acabava, lá tinha eu de ir a Proença recarregar a bateria (numa oficina), durante umas horas; às vezes ficava lá de um dia para o outro.

Comprei também a antena exterior (muito grande e pesada), que me deu um trabalhão a fixar na parede da casa. Por ser no vale, nunca captou muito bem o sinal... Lembro-me de, antes de a fixar num tubo ao alto, a deixei uns tempos em cima do telhado, à experiência... Mas, por azar, veio um dia de vento forte, que a derrubou e quase danificou. Ainda por cima, eu não estava por lá; só voltei passados uns dias... Ia-se estragando todo o equipamento!

Nos anos seguintes, começaram a aparecer outras TV's na aldeia... Depois, com a eletricidade, todas as famílias passaram a possuir, à medida que se foi generalizado o seu uso em toda a sociedade. Quem consegue hoje passar sem ter alguma dessas "caixas mágicas"?!...