quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Os Ditados da Avó Carmo...

Actualização de 30mar2014: A Ti Carmo acabou de nos deixar para sempre! Às filhas e restantes famílias deixamos aqui os nossos sentimentos. Que descanse em paz!...

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A Ti Carmo (da Palhota) era até agora a Valecarreirense de idade mais avançada. Aqui se publicam estes versos, por ela muitas vezes declamados. A iniciativa é da sua filha Prazeres. Eles foram compilados por uma nora sua, em 2005. A todas agradeço a iniciativa, que visa perpetuar as memórias dos nossos pais e avós... Que sirva de exemplo a outros Valecarreirenses.

Trata-se duma agradável homenagem à sua mãe, que acaba por ser ainda mais vincada já que aconteceu pouco tempo antes da sua partida...




Meu amor é pequenino,
Fui à cama não o acho.
Veio uma pulga, deu-lhe um coice
Deitou-o da cama abaixo.

O meu amor não é este,
O meu amor traz chapéu.
O meu amor ao pé deste,
Parece um anjo do céu.

Meu amor vem lá em baixo,
Eu pelo andar o conheço:
Traz o chapéu à maroto
E o “capote” do avesso.

Só eu tenho uma sogra
Que não faz nada.
É pior que uma cobra
Quando está assanhada.

Vai para a porta e para a janela,
Dar à língua com os vizinhos.
Trabalhar não é com ela,
Vai bebendo umas pinguinhas.

Já pedi à Sra. da Hora,
Que ma retire de casa para fora,
Para ver se tenho alegria
Se me sai a sorte grande, ganho a lotaria.

11 horas ou meio-dia,
Vai o meu bem a jantar.
Quem me dera ser pombinha
Para o ir acompanhar.

Haja cautela no baile
No baile haja cautela:
Que ali já ia um
Aos beijos à cara dela.

Que valor tem um beijo
Para me estares sempre a “tentar”?
Há beijos que perdem cor
Outros que fazem corar.

Eu fui ao céu para te ver
E subi por um diamante.
Quem sobe ao céu para te ver,
Já te tem amor bastante.

Da minha janela à tua,
É uma vara medida.
Do meu coração ao teu,
É uma estrada seguida.

À tua porta menina
Não se pode lá namorar.
De dia há lá só moscas
De noite os cães a ladrar.

Se vires cair apanha,
Salsa verde na varanda.
Olha que são saudades
Que o meu coração te manda.

Eu deitei-me e adormeci
Ao pé da água que corre.
A água me respondeu
“Quem tem amores não dorme”.

O meu coração fechou-se,
Fechou-se já não se abre.
Quem o fechou ausentou-se,
Ausentou-se e levou a chave.

Passarinho da ribeira,
Eu não sou o teu irmão.
Tu levas as penas nas asas
E eu trago-as no coração.

Passarinho do ar,
Eu não sou teu inimigo.
Empresta-me as tuas asas
Que eu quero voar contigo.

Quando eu me for desta terra
Vou para outra freguesia.
Levo na minha companha
A nossa Senhora da Guia.

2 comentários:

  1. Obrigado, Prazeres. Lindos versos, lindas memórias!... E obrigado também à tua mãe... Beijos

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