A sua velocidade ia aumentando e, apesar de se mover sobre águas mais frias, não se dirigia para a zona das Ilhas Canárias, antes continuava mais na direcção NE (nordeste), de tal modo que ao final do dia 13 atingiu a costa do Continente português, já como tempestade tropical, embora com ventos ainda característicos de furacão cat. 1 - (fig. 13).
Quase todos os cenários apontavam, de início, para que atingisse com intensidade a Madeira e se dissipasse na zona das Ilhas Canárias... Mas o seu trajecto, numa área não comum para estes ciclones, foi sendo sucessivamente revisto, cada vez se deslocando mais para o Norte do país, desde o Algarve até à zona de Lisboa, depois entre Peniche e Figueira da Foz (fig. 5 a 8)...
Acabou por entrar em terra na zona da Figueira da Foz, entre as 22 e as 23h. Aí, bem como na margem esquerda do Rio Mondego e Soure, provocou os maiores estragos (fig. 9 a 12).
Nas horas seguintes foi perdendo actividade, mas deixando ainda vestígios nos distritos de Coimbra, Viseu, Vila Real e Bragança... De um modo geral, todo o litoral desde a foz do Tejo até Aveiro acabou por ser afectado!
Na fig. 14, apresenta-se o trajecto completo deste furacão, que esteve activo durante 21 dias, um dos mais duradouros e erráticos de sempre. (O Furacão John, no Pacífico, em ago/set 1994, durou 31 dias, o máximo atingido conhecido!)...
Em 1998, 2005 e 2017, Portugal Continental tinha já sofrido com ciclones topicais. Os Açores têm sido sempre mais sujeitos a estes acontecimentos: nos últimos 45 anos, foram assolados ou ameaçados cerca de 35 vezes! - (Veja, na barra lateral deste blogue: Portugal e os Ciclones Tropicais). Tal como o Continente, também a Madeira muito raramente é afectada. Parece que o foi, e severamente destruída, no longínquo ano de 1842. Ao que parece, esse evento ainda atingiu o Algarve. - (Note-se que o muito falado Ciclone de fev/1941 não tinha as características de ciclone tropical, mas sim de uma intensa depressão das latitudes médias).
Aparentemente, estamos cada vez mais a ser atingidos por estas calamidades! Efeitos das alterações climáticas???
Acrescentado, em 16out: as fig. 15 e 16 apresentam, respectivamente, o vento máximo (rajadas) e a precipitação total do dia 13out (nas estações automáticas da rede do Instituto Português do Mar e da Atmosfera - IPMA - do seu site). Os ventos foram bem significativos nas zonas próximas do centro da tempestade/depressão, tendo-se, na Figueira da Foz, atingido o máximo alguma vez registado em Portugal Continental (rajada de 176,4 km/h). Em Aveiro, Coimbra e Caramulo, foram registadas rajadas de 120 km/h, 122 km/h e 140 km/h, respectivamente. Já a precipitação foi bastante inferior ao esperado...
Fig. 2
Fig. 3 - O furacão Leslie a N da Madeira
Fig. 4 - Ondas enormes na costa Norte da Madeira
Fig. 7
Fig. 9
Fig. 10
Fig. 11
Fig. 12
Fig. 13 - Imagem de radar meteo., cerca de 40 min. antes de atingir terra
Fig. 14 - Trajecto total do Furacão Leslie
Fig. 15 - Vento máximo (rajada)
Fig.16 - Precipitação total