Página 4 - HOMENAGENS: a Adriana Roveri (no Brasil); às nossas mães/mulheres da aldeia; ao Tio Francisco; à Ti Josélia; ao Ti Germano (várias); ao Ti José Dias ("Zé Pedreiro", do Serimógão); a todos os pais; ao Ti Carlos e Ti Nati; a diversos homens da aldeia; a Maria José; ao meu pai; a Rui Pedro; à Tia Conceição; a António João Pinheiro; etc...

19. (Em 06jul2021) -  A Adriana Roveri (neta do Raul Alves Sonso e Fernanda, que faleceu de COVID-19, no dia 4). Desejamos conforto a toda a família... E que ela descanse em paz!

---

O avô Raul escreveu:

"É com muito pesar que estamos com o falecimento de nossa neta Adriana de 35 anos de vida por uma doença chamada COVID que tem matando muita gente no mundo.

Saudades de toda família, avós, pais, tios, marido, irmãs, sobrinhas, filha, primos e todos os familiares. Que esteja com Deus lá no céu olhando por nós que ficamos aqui na terra.

Raul e Fernanda".

---

Sua prima Carla, de Elvas, publicou assim:


A notícia em vídeo:


(deixe os anúncios acabar ou ignore-os)


---


---


---


A Adriana, no seu casamento.


Homenagem da Família Martins, do Vale de Água,
no Jornal de Proença a-Nova.
(para ler melhor, clique)

- / - / - / - / - / - / -

18. (Em 04set2020) - Do António Alves, às nossas mães/mulheres da aldeia:

Não tenho como esquecer as mulheres
da minha infância.

Todas vestidas de negro, lenços na cabeça,
as cores consoante os dias; durante a semana
escuros, da moda aos domingos.

Iam e vinhas da labuta dos campos, cestos à
cabeça, muitas vezes com filhos ao colo; em
casa eram quase escravas, mas escravas livres,
alegres, boas mães de família, amantes do
seu homem e dos filhos.

Os seus olhos eram como que faróis, as mãos
calejadas esculpiam parábolas; eram guardiãs
das panelas, donas de casa, camponesas.

Levantavam-se cedo, ordenhavam as cabras,
tratavam dos filhos, do leite faziam o queijo,
cantarolavam.

Elas, as mulheres da minha infância hoje
parecem-me quase irreais.  Lembram tempos
e lugares sem dias e sem horas; invernos e 
verões eram farinha do mesmo saco.

Hoje já quase todas elas morreram, mas, 
no meu pensamento, no meu íntimo
continuam vivas – para mim as mulheres da
minha infância, estão vivas, são eternas.

António Alves
03/09/2020

Pintura: Óleo sobre tela (Mulheres 1)
Autor: António Alves.


- / - / - / - / - / - / -

17. (Em 05set2019) - Homenagem do António Alves ao Tio Francisco:

"Tio Francisco,

Os fins de dia eram dos filhos,
o cansaço era coisa passada.

Sobre os joelhos palácios,
genes que floriam em paz.

À noite, quando a luz se apagava,
restava o silêncio e a fogueira.

Depois, parava o corpo na cama.

António Alves

05/09/2019"



- / - / - / - / - / - / -

16. (Em 05set2019) - Homenagem do António Alves à sua Tia Josélia:


"Tia Josélia,

Rosa no meu caminho
das palavras aos conselhos,
saudade.

Embora saiba do teu coração,
o teu corpo já não é.

O dia era semelhante
ao teu sorriso,
ao teu amor.

É memória que jamais morrerá.

Falo como se de um sonho
pudesse esquecer.

Que o repouso seja de luz
Gratidão in eternem… (ou ad aeternum*)

António Alves
05/09/2019"


* até à eternidade, para sempre (latim).

- / - / - / - / - / - / -

15. (Em 24nov2018) - Homenagem ao Tio Francisco:

Os descendentes do Tio Francisco Alves (1918-1995) reuniram-se para comemorar os 100 anos do seu nascimento (09nov1918). Veja tudo na Página 3 - Crónicas/Eventos da Família...
 
- / - / - / - / - / - / -
 
14. (Em 03mai2018) - Nova homenagem ao Ti Germano (do seu filho António.) - copiado do Facebook:


"Estas são palavras que um dia escrevi... São recordações boas de alguém que teve a sorte de ter os Pais que teve...

Este não é o meu poema.  É o poema.
São as palavras-poema de um filho que há muito viu partir os “Pais”, as palavras-poema de um  pai que já viu partir um filho…

São as palavras de um filho para o “Pai”, são palavras…, as minhas palavras-poema.

Sempre soube do meu amor por ti,  Pai.
Eu sabia e tu sabias das palavras que nunca dissemos ou das que tantas vezes dizemos tarde…

Pai amo-te e sei que mesmo sem dizer-te 
sempre entendeste as palavras e os gestos que nunca te disse ou tive
ou que nunca te disse enquanto te podia ter dito

Não disse e hoje já não posso 
Já não posso sentar-me sobre os teus joelhos e dizer-tas.

Mas Pai, sei que me escutas e sei que me entendes, que me recebes como sempre.
Sinto as tuas mãos em mim, os teus braços e o teu sorriso; até entendo quando não gostavas e me dizias.

Pai, pelo que nunca te disse, pelos gestos que tantas vezes não tive, pelas mágoas e pelas desilusões quero pedir-te desculpa.
Desculpa que só te peço agora, mas Pai, sei que já me perdoaste, que nunca nada é tarde demais
sei que me amas, sei que continuo a ser um dos teus filhos.

Queria ter-te dito tantas coisas que nunca disse
mas não te queria magoar e disse-te até coisas que te magoaram, mas sabes, Pai, o meu coração ama, tu ensinaste-me a amar e Pai, amar não é fácil…sei que tu entendes.

Sou e serei teu filho mas sou também homem, sou real, tenho sonhos.

Pai, amo-te.

Eu sei que tu sabes porque sempre soubeste que sempre te amei
Posso ter seguido caminhos que não sonhaste para mim
mas tu fizeste-me sensível
romântico
homem
Mas Pai, perdoa se tenho coração, se tenho alma
porque se tenho tu és o culpado
Sou o sangue do teu sangue
Sei que agora estejas onde estiveres me compreenderás melhor
terás orgulho por teres sido, por continuares a ser o meu Pai
O Pai que amo e sempre amei
O Pai que sempre quis ter
Tu Pai, foste, és, serás sempre o pai que amo
Tu e a mãe os meus primeiros amores

Há muito que partiste, que dormes o sono dos bem-aventurados
Cumpriste a tua missão neste mundo
mas ainda agora recordo os teus olhos fechados
a tua cor mais pálida, exangue
mas sabes, amo-te assim mesmo,  amo-te ainda mais
Tu Pai, tu partiste mas tu ficaste
Sei que agora me olhas com os teus olhos de sempre
que sorris para mim e me abraças quando preciso, me proteges
Sei que um dia me voltarei a sentar-me ao teu colo
porque sei que um dia nos voltaremos a encontrar

E sei que será assim porque ambos acreditamos
que não somos deste mundo
que estamos de passagem

Tu partiste…
Não, tu não partiste porque tu vives nos teus filhos e netos
Eu sou um dos teus ramos, o ar que por ti respiro
as mãos que substituem as tuas

Pai hoje estou mais só
Mas sabes Pai, tu estás comigo, tu existes em mim
eu sou uma árvore viva
da floresta que tu plantaste e cuidaste com muito amor

Por tudo Pai
pela vida que me deste
Pelo que foste e pelo que és
por tudo que me ensinaste, pelo amor que me dedicaste
obrigado

Pai, eu existo porque tu exististe, existes…
Amo-te Pai.


António Alves"

- / - / - / - / - / - / -

13. (Em 01abr2018) - Homenagem à Família Alves Sonso:

Ana Alves, a única filha do Abílio Sonso publicou no Facebook, em 14mar2015, o seguinte:

"Venho por aqui homenagear minha família que amo muito e que as saudades são muitas e para quem já nos deixou pois guardo com muito amor no coração"...


 
- / - / - / - / - / - / -

12. (Em 22fev2018) - Homenagem ao Ti Germano:

A Fernanda Patrício prestou homenagem a seu pai, que nasceu a 18fev1910, escrevendo no Facebook:

"Para o meu pai que este mês celebrava o seu aniversário. Saudades

Pai.

Vejo-te pai, estás aí
Frágil na tua saúde
Forte no teu ânimo
Grande no teu amor
Capaz de dizer não sem alternativa
Mas árvore protetora, amiga
Presente nos bons e maus momentos
Abres-nos vias, mostras caminhos
Que temos de ser nós a escolher
Ris, choras, abraças
Queres fortes as nossas asas
Para seguir nossos destinos.
Vejo-te Pai, és a minha bússola.
Amo-te, Pai."


(Nota: Como já tenho escrito noutras partes deste blogue, incentivo os Valecarreirenses a fazerem idênticas homenagens aos nossos antepassados, a enviarem-me fotos antigas ou textos sobre qualquer assunto relativo à aldeia...

Obrigado, Fernanda! E a todos os que têm colaborado com o blogue. Vejam, na barra lateral os que já enviaram contributos...)

- / - / - / - / - / - / -

11. (Em 19jun2017) - Homenagem a Rui Pedro:


Para acordar escolheu o canto dos pássaros,
a companhia do silêncio. O tic-tac do relógio
era já uma ênfase sem obrigação,
uma rotina sem horas.

Uma a uma abriu portas e janelas à alegria,
saudou o sol,
sorriu á vida,
entristeceu.

É um quase dia,
um dia novo, um dia como tantos outros,
um dia para nunca esquecer – 17 junho.

Vejo flores, árvores, casas…
gente.
Vozes vindas de todo o lado e de lado nenhum.

Mas é um dia diferente.

O pai e a mãe há muito que partiram.
Partiram e deixaram saudades. Ainda os ouço.
Ouço mãe e ouço pai como ouço sol e ouço chuva.
Restolho. Ensinamento.
Gratidão.

E ouço filho.
Ouço amor.
No peito uma dor, uma dor maior.
Uma dor que nunca acaba, uma dor maior que eu.

Bom dia meu filho. Bom dia Rui Pedro.

Na alma tudo. Na alma a música dos teus passos,
da enxada a esventrar a terra,
o perfume do teu sorriso,
a delicadeza com que nos olhavas!

Agora pensando em ti sinto escorrer-me pela face
uma lágrima salgada,
uma lágrima viva,
de amor,
tu.

Tu que te deitas comigo, tu que acordas comigo.
Tu que vives em mim.
Bom dia Rui Pedro.

António Alves
17/06/2017



Nota: O Rui Pedro partiu quase há 40 anos, mas vive na memória dos pais, familiares, amigos e conterrâneos... Seu pai, o poeta/pintor António Joaquim  Alves dedica-lhe este poema de saudade...

- / - / - / - / - / - / -


10. (Em 13mai2017) - Homenagem a António João Pinheiro:


O Vale da Carreira voltou a ficar mais pobre, no passado dia 8, com o falecimento do meu cunhado, António João Pinheiro, marido da minha irmã Alice... Que descanse em paz, ele que tanto sofreu nesta vida!

Segue um texto de homenagem publicado no Facebook pela sua filha Carla, que aqui reproduzo:

"Os heróis não são os que ganham medalhas, nem bolas de ouro, nem discos de platina… Os heróis são aqueles que todos os dias lutam pela vida, que sofrem de doenças crónicas e incuráveis… e que, sem perceberem porquê, passam grande parte da sua passagem na Terra a sentir um sofrimento que se sobrepõe a tudo que os rodeia… TU, PAI, és um desses HERÓIS… Foram perto de 30 anos de luta constante... a diálise 3 vezes por semana, as dezenas de internamentos, intervenções cirúrgicas... Nunca te ouvi dizer: “Não aguento mais”; somente “Temos que sofrer”, “Até que Deus queira”… Suportaste o sofrimento como ninguém… e, no meio de tanta dor, tiveste sempre uma palavra de conforto para os que mais te Amam... És um exemplo de CORAGEM E FORÇA!!   
Vou guardar comigo os momentos em que rimos, em que brincámos, em que me fazias cócegas, em que me penteavas o cabelo antes de ir para a escola, em que jogávamos às cartas com os manos…
Ficas SEMPRE NOS NOSSOS CORAÇÕES...   
As SAUDADES já são tantas… Descansa, MEU HERÓI    "

 
 


- / - / - / - / - / - / - 

 9. (Em 22mar2017) - Homenagem ao Ti Germano:

"(Vale da Carreira - pai Germano)


Havia uma estrada
um ribeiro
água
terras semeadas
milho

Havia gente
juventude
cabras
mulas
bois

Havia vida
primavera
verão
outono
inverno

Hoje o que há?

Ribeiro sem água
velhos
Até as estações do ano se misturaram
perderam o tino

Recordações

António Alves
19/03/2017"


Copiado integralmente do Facebook. - Dos vários comentários, sobressai este, do autor (Antonio Joaquim Alves): "Esta é doce.....recordar o meu Pai é doce...foi um super pai....a vida é assim mesmo....chegamos e partimos...todos temos um "dia"...."

  - / - / - / - / - / - / -


8. (Em 24out2016) - Parabéns ao Ti "Zé Pedreiro":

Completou 89 anos, no dia 20out, o Ti José Dias (Ti "Zé Pedreiro"), nascido no Vale da Carreira e residente no Serimógão. Endereçamos-lhe os parabéns, ele que é o Valecarreirense (homem) com maior idade, no momento...

Haja saúde para muitos mais anos, Ti Zé! A sua mãe (a Ti Rosa) passou dos 100, meta invejável!...

Seguem fotos da família comemorando o evento, no passado fim de semana.

(Refira-se ainda que a Ti Maria dos Anjos (a esposa) já vai a caminho dos 91 anos... Penso que, nas aldeias da zona, serão o casal com as mais bonitas idades e tão próximas uma da outra...)

Editado em 07jul2018: Desde que publiquei este artigo, já  faleceram, primeiro a Ti Maria dos Anjos e, agora, o Ti José Dias (Zé "Pedreiro")... Endereçamos os nossos sentimentos a toda a família enlutada... Que descansem em paz!




  - / - / - / - / - / - / -

7. (Em 02abr2015) - Do Raul, à Tia Conceição:


“Venho, por intermédio deste, homenagear a minha Tia Conceição 'Mendes', pois foi quem, em todas as vezes que fui a Portugal, sempre me recebeu de braços abertos, a mim e aos meus que aí foram. E pelos atos bons de ajuda a minha mãe Nati e a meus irmãos. Sempre que precisamos dela nos atendeu de bom coração, por isto ela merece a nossa homenagem, minha e de meus familiares. Tia Conceição foi uma irmã para minha mãe, eu agradeço por tudo o que nos ajudou, onde, daqui de longe, sempre senti saudades. À Tia Conceição os meus maiores agradecimentos, e que descanse em paz. Raul Alves.”



- / - / - / - / - / - / -

6. (Em 19mar2015) - Para todos os nossos pais, que foram do Vale da Carreira:


Hoje, "Dia do Pai" ou "Dia de São José", venho aqui recordar e homenagear todos os pais e, em particular, aqueles que já nos deixaram. Eles que estão merecendo o descanso eterno...

Mesmo correndo o risco de não mencionar todos, refiro aqueles Valecarreirenses (residentes na aldeia) de que me lembro, desde a minha infância, particularmente os que partiram depois de 1965/70...

Em primeiro lugar, o meu pai, José Dias. Depois, os meus Tios Francisco Alves e José Maria. E também o Ti Germano, o Ti António "Lavrador", o Ti Carlos Sonso, o Ti António "Pedreiro", o Ti Luís "da Palhota/Junceira"), o Ti Zé "Sapateiro", o Ti António "das Pernadas", o Ti Luís Dias ("Marês"), o Ti Manuel Tavares ("Sapateiro"), o Ti Alexandre, o Ti Simão, o Ti Manuel Branco, o Ti António "Balseiro"...

Nota: Se alguém quiser acrescentar alguma homenagem especial a algum deles, contacte-me, que terei todo o gosto em publicar...

- / - / - / - / - / - / -

5. (Em 28mai2013) - Do Raul Alves Sonso, aos seus pais:

"Quero por intermédio deste blog do Vale Da Carreira prestar uma homenagem a duas pessoas muito queridas que são meus pais Carlos Lopes Sonso e Maria da Natividade. Hoje se fossem vivos este ano de 2013, minha mãe completaria 100 anos e meu pai 99. 


Saudades tenho pois me separei da companhia deles indo para o Brasil com 15 anos, no ano de 1957.

Infelizmente quando tive a oportunidade de voltar a Portugal no ano de 1986 estes já eram falecidos e me deixaram muitas saudades. É uma pena que meus queridos pais não chegaram a conhecer os primeiros netos. Pois hoje, aos 71 anos tenho quatro filhos, dois genros e duas noras que me deram 12 netos e 2 bisnetas.

Tudo isto é uma grande conquista que me foi proporcionado pelos meus pais que me deram a vida.

Saudades

Raul Alves Sonso

Brasil, maio de 2013"


- / - / - / - / - / - / -

4. (Em 19fev2013) - Aos homens da aldeia:

(Esta homenagem é também da autoria do António Joaquim Alves, a quem agradeço. Está publicado na pág. 55 do Livro de poemas "Os passos das romãs e das cerejas", de jan2015 - capa abaixo.)

"Homenagem

Estava calor
No largo da fonte procurava-se a sombra das oliveiras.
Alguns homens jogavam os trunfos do jogo de sempre,
cartas gastas, baralhadas, partidas, lambidas.
Estavam alertas ao parceiro, aos sinais, a nada.
Na sabedoria que a vida dura lhes ensinara
Jogavam o tempo e bastava-lhes o sabor da vitória.
Ali tudo era familiar, vivia-se e amava-se a vida.
Falavam dos cansaços que sobraram da ceifa, da azeitona,
das courelas, das cabras que pariam, dos filhos que se foram.
A vida era feita a torna-dias, solidariedade paga.
Havia calor, calor humano, acima de tudo amizade.
Paz.

António Alves
19/02/2013 

Recordo com saudade:
O meu avó José Alves e o seu parceiro de sempre (ti) Manuel Mendes;
(ti) José Dias, António Lavrador, Luís da Palhota, José Sapateiro, 
António das Pernadas, Luís Marês, Joaquim Alves e Manuel Sapateiro;
(tios) António Alves, Francisco, Joaquim e (padre) José Alves Júnior;
Ao meu Pai Germano."


- / - / - / - / - / - / -

3. (Em 30jan2013) - Ao Ti Germano Joaquim:

Do António Joaquim Alves recebi mais esta bela homenagem ao seu pai, o Tio Germano. Foi também transcrita do Facebook.


“Minha aldeia, minha casa – Pai Germano.

A minha vida é feita do que sou.
Da infância feliz em família
na aldeia onde todos eram primos e irmãos
pessoas simples em casa de portas abertas.

A escola, o caminho a pé em grupo
o farnel minguado no fundo da bolsa
as brincadeiras nascidas e feita do nada
a alegria de viver, o tempo que era nosso.

As roupas feitas por medida
obra dum qualquer pano já usado
ou os sapatos que não tínhamos,
as solas, restos de pneus que já não eram.

A religiosidade velha de gerações
as ladainhas em latim que o meu avô ditava
- virgo virginae – ora pro nobis…
pastor sem batina que amava o seu rebanho.

O seminário, forja de sonhos e de futuro
os pais que procuravam dar outros saberes
p’ros filhos que queriam outra vida.
A pobreza que sempre era mas não sentíamos.

Hoje penso e revejo o passado.
Sonho um homem doente, feito saber
que para lá dos montes via o mundo
e que iniciou uma cavalgada que ganhou vidas.

Esse homem grande foi o meu Pai.
Um homem que adivinhava estrelas na terra
semeou futuro no passado e foi estrada.
Nós somos o que somos porque ele foi.

De uma aldeia pequena, perdida, longe de tudo
nasceram empresários e doutores, gente feliz.
- Obrigado, Pai Germano.

António Alves
29/01/2013”


- / - / - / - / - / - / -

2. (Em 17jan2013) - A Maria José:

Eis a segunda homenagem, da autoria do António Joaquim Alves - (que publicou no Facebook e me autorizou a transcrever no blogue.)

"A minha esposa e companheira de viagem - Maria José



APENAS PORQUE ÉS

Crescer todos os dias, ser horizonte
viver para além do vento e do sonho,
sentir-te para além de ti e até do amor.
Penso-te no dia a dia, no que fazes
por obrigação, por devoção, porque és recta,
embora pense, dona de um coração rebelde.

Embora submetida à lei dos compromissos
se os filhos te pedem e precisam, têm.
É o sentido que a vida te dá de seres mãe.
Nas pulsações rebeldes que te dividem,
está a família que importa, o raciocínio da escolha,
a virtude de seres, de poderes, de amar.

Vejo-te também na lógica fria das palavras,
no sentido oculto que amigos perseguem
na mecânica do tempo, tudo e nada,
na constante procura do tempo e das origens,
nas sombras da noite e nos raios de sol.
Vejo-te em tudo que os teus olhos possam ver.

Sei que és forte, que se caíres te ergues.
Que buscas em tudo o que nunca foi e nunca é.
Se será? Sim és em todos os momentos.
E, só pode haver um final, o teu, o único.
Surges na penumbra, mulher-sonho,
mãe, amiga, companheira – mais-mulher.

Olha a lua e fala com as estrelas,
elas confirmarão e eu acredito.
Mantém a janela aberta e ver-te-ás no céu.

Encontra-te, tu estás lá, és parte.
Nós somos o que procuramos, acredita.
És. Somos apenas lágrimas de Deus.

Leiria 15/01/2013
António Alves."

- / - / - / - / - / - / -

1. (Em 02jan2013) - Ao meu pai, que nasceu precisamente há 100 anos:

Começo esta página com a homenagem ao meu pai, José Dias. Ei-lo, em diversas fases da vida:






Nasceu na aldeia de Pernadas, filho de Luís Dias e Maria da Piedade, no dia 2 de janeiro de 1913. Se ainda fosse vivo, faria hoje precisamente 100 anos. No entanto já partiu, no verão do ano 2000… Esteve viúvo por mais de 9 anos (minha mãe já nos tinha deixado, em fev/1991).

Antes de casar, em 1942, construiu a sua casa no Vale da Carreira, no "fundo do Covão". Mas o local era um “olheiro” (sítio onde nasce água), pelo que passou a ser tratado/conhecido por muita gente da aldeia ou aldeias vizinhas como o “Ti Zé do Olheiro”!

Aqui nasceram os seus 7 filhos, entre 1943 e 1959. Fomos criados com os sacrifícios próprios da época… Para sustentar a família, o meu pai foi daquelas pessoas que nunca se furtaram a esforços: cultivava de tudo um pouco nos diversos terrenos/hortas que herdou ou foi comprando; e, por alguns períodos, também ia ganhar o sustento para fora da terra...

Pais e filhos, em meados da década de 1970...
(Editado, em 29jul2024 - também já partiram
três dos filhos: Domingos, Fernando e António)

Correndo o risco de não contemplar tudo, repare-se só nas profissões/actividades que exerceu (e ainda hoje dizemos que temos de nos preparar para desempenhar mais de uma profissão/emprego, durante a vida!!!...):

- trabalhou, embora por pouco tempo, nas minas da Panasqueira;
- trabalhou a fazer hóstias para a Igreja;
- cumpriu o serviço militar em Castelo Branco e Tomar, mas não seguiu a carreira das armas, apesar de ter sido convidado (dizia ele mais tarde, lamentando-se, pois era dos poucos que tinham algumas habilitações - a quarta classe);
- durante muitos anos, foi à ceifa, no Alentejo (os beirões nessa situação eram os “ratinhos”);
- trabalhou na apanha da azeitona, no Ribatejo;
- foi lagareiro (em Entroncamento, Sardoal, Chainça, bem como num dos lagares da aldeia, muitas vezes depois de já ter estado, por um a dois meses, num dos lagares anteriores);
- trabalhou “à jorna”, em variados trabalhos para pessoas da aldeia e arredores (a cavar; arrancar pedra; roçar mato; fazer poços ou minas; apanhar azeitona; arranjar as estradas, com cantoneiros; etc.).

Em suma, sempre o vi cheio de iniciativa, enfrentando qualquer actividade, por mais estranha ou diferente que fosse. Lembro-me, por exemplo, de o ver zelosamente a: lavrar e amanhar as terras; semear, mondar ou ceifar os cereais; roçar mato e fazer paveias ou medas com mestria; fazer e trazer carradas de mato, na carroça; fazer parede, de pedra ou tijolo, com barro ou cimento; crestar e tratar eficazmente das colmeias; cortar cabelo ou fazer a barba a vizinhos; tratar e trabalhar com vários tipos de animais domésticos (teve bois, mulas, machos, burros, ovelhas e cabras, porcos, galinhas, coelhos…); desmanchar e tratar da carne dos porcos que matava (salgar, fazer presuntos e chispes); etc.

Fazia um vinho e uma aguardente excelentes! Por modéstia, dizia sempre que o seu vinho era uma "agua-pezita"...

Deve ter sido ele que me despertou a curiosidade de lidar com o tempo (meteorologia)! Lembro-me de me dizer muitas vezes, quando eu ia ter com ele ao alto da Corguinha Madeiros, do Vale do Russinho ou da Corga de Frade (locais onde, desde bem cedo, ao amanhecer, começara a trabalhar), coisas do género:

- “é capaz de chover, pois ao nascer do sol havia uma aberta lá para o nascente”;
- “essa nuvem vai trazer pedra!”;
- “no verão, depois de 2 ou 3 dias de vento, vem calor!”;
- “círculo na Lua, água na rua”;
- “enquanto cair geada, não chove”;
- “o vento está a puxar a chuva”...

Poderá também ter influído ver a minha mãe a queimar alecrim e rezar a Santa Bárbara quando havia grandes trovoadas… (ver artigo de 30abr2011 - http://vale-da-carreira.blogspot.pt/2011/04/valha-nos-santa-barbara.html). Mais tarde, compreendi algum do significado dessas expressões e acções...

Que vida difícil tiveste, pai! Mas conseguiste criar e educar os filhos e deixaste uma bela família, que conta actualmente (jan2013) com 7 filhos, 15 netos e 10 bisnetos...
   
Obrigado por tudo e pelo exemplo e ensinamentos para a vida que me/nos deste. Descansa em paz, pai!...

6 comentários:

  1. Está muito bem escrito, pai. Foi, sem dúvida, um exemplo a seguir e revejo em ti muitas das suas qualidades!
    Beijinho da filha,
    Sara

    ResponderEliminar
  2. Fernando António Alves13/01/13, 14:07

    Caro primo Zé Luís.

    Foi com muito gosto que li o artigo que espelha, bastante bem, o que foi o teu pai e, agora acrescento eu, meu padrinho de batismo e de casamento. Foi um homem com quem sempre gostei de privar e por quem tenho admiração e sei que ele também me considerava bastante. A vida é feita de memórias e quando são positivas é um orgulho imenso para os filhos. Podemos não ter recebido grandes bens materiais dos nossos pais, mas recebemos exemplos de vida que nos alimentam a alma e nos apraz relatar aos nossos filhos e aos demais. Pelo que foi e fez na vida, certamente está em bom lugar. Um grande abraço, do primo Fernando Alves. Até logo.

    ResponderEliminar
  3. António, bonita homenagem a tua esposa! Gostei da tua ideia e foi com gosto que publiquei. Na poesia e na pintura, estás a revelar outros dotes!!! Espero que outros valecarreirenses sigam o teu exemplo. Obrigado e um abraço. (Vamos falando - FB, mail, etc.)

    ResponderEliminar
  4. António, mais uns versos cheios de significado e sentimento. O teu pai foi um grande exemplo para todos os que o conheceram. Lembro-me muito bem dele... Obrigado

    ResponderEliminar
  5. Mais uma vez, os agradecimentos ao António, pela homenagem n.º 4. Parece que estou mesmo a ver o pessoal a jogar à sueca, um dos passatempos da gente da aldeia, principalmente nas tardes de verão, à sombra. Fazia inveja às gentes doutras aldeias e a quem passava... António, do teu avô José Alves e do meu, Manuel Mendes, ainda me lembro de os ver a passar o tempo a jogarem (à bisca) e acabarem quase sempre em discussão!!!...

    ResponderEliminar
  6. Raul, gostei da homenagem a seu pai e sua mãe. Obrigado por ajudar a enriquecer o blogue...

    ResponderEliminar