Página 5 - Danças, cantigas, lenga-lengas, contos tradicionais...

Nota: Contos, na parte final da página...

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HINO DO VALE DA CARREIRA:

(Servia de introdução e despedida do rancho folclórico - quando este existia e atuava...)

Salvé Vale da Carreira
Paraíso de encantar.
Salvé Vale da Carreira
Risonho berço de embalar.

Terra bendita
Cheia de graça e beleza.
És a mais catita
E a mais portuguesa.

(alguém sabe o resto?...)
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O LADRÃO DO MEIO:

O ladrão do meio
É muito vaidoso,
Quando vai p´ra missa
Vai todo ranhoso.

Rouba, ladrão, rouba
Se sabes roubar,
Rouba uma menina
Que te saiba amar.

Que te saiba amar
Que te saiba dar a mão.
Quem não tem amores
Fica paspalhão.

O ladrão do meio
É bem asadinho,
Para namorar
Tem muito jeitinho.

Rouba, ladrão, rouba
Se sabes roubar,
Rouba uma menina
Que te saiba amar.

Que te saiba amar
Que te saiba dar a mão.
Quem não tem amores
Fica paspalhão.

O ladrão do meio
Julga que é alguém,
É um rapazinho
Que nem barba tem.

Rouba, ladrão, rouba
Se sabes roubar,
Rouba uma menina
Que te saiba amar.

Que te saiba amar
Que te saiba dar a mão.
Quem não tem amores
Fica paspalhão.

O ladrão do meio
Foi aos taralhões,
No meio do caminho
Perdeu os calções.

Rouba, ladrão, rouba
Se sabes roubar,
Rouba uma menina
Que te saiba amar.

Que te saiba amar
Que te saiba dar a mão.
Quem não tem amores
Fica paspalhão.

O ladrão do meio
Está preso à argola,
À espera que venha
A Armada espanhola.

Rouba, ladrão, rouba
Se sabes roubar,
Rouba uma menina
Que te saiba amar.

Que te saiba amar
Que te saiba dar a mão.
Quem não tem amores
Fica paspalhão.

O ladrão do meio
Está preso à estaca,
À espera que chegue
A saia (?) macaca.

Rouba, ladrão, rouba
Se sabes roubar,
Rouba uma menina
Que te saiba amar.

Que te saiba amar
Que te saiba dar a mão.
Quem não tem amores
Fica paspalhão.

O ladrão do meio
É muito aldrabão,
Como não tem amores
Ficou paspalhão.

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NO ALTO DAQUELA SERRA:

No alto daquela serra
Tem meu pai um castanheiro
Que dá castanhas em maio
Cravos roxos em janeiro

Além atrás daquela serra
Está um lenço de mil cores.
Tem letras que vão dizendo:
Morra quem não tem amores.

(…)

Ajoelha-te aos meus pés e reza
Reza a tua oração.
Levanta-te e vem dançar,
Querido amor do coração. 

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EU FUI AO JARDIM CELESTE:

Eu fui ao jardim celeste,
Giroflé, giroflá.
Eu fui ao jardim celeste,
Giroflé, flé, flá.

O que foste lá fazer,
Giroflé, giroflá?
O que foste lá fazer,
Giroflé, flé, flá?

Fui lá buscar uma rosa,
Giroflé, giroflá.
Fui lá buscar uma rosa,
Giroflé, flé, flá?

Para quem era essa rosa,
Giroflé, giroflá?
Para quem era essa rosa,
Giroflé, flé, flá?

Era para a menina …
Giroflé, giroflá.
Era para a menina …
Giroflé, flé, flá.

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A MACHADINHA:

Ah, ah, ah,
Minha machadinha,
Quem te pôs a mão
Sabendo que és minha?

Sabendo que és minha
Eu também sou tua,
Salta machadinha
Lá para o meio da rua.

No meio da rua
Não hei-de eu ficar,
Eu hei-de ir à roda
Escolher o meu par.

O meu par
Eu já sei quem é:
É um rapazinho
Chamado José.

Chamado José
Chamado João (ou outro)
É o rapazinho
Do meu coração (...)

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A LINDA FALUA:

Que linda falua
Que lá vem, lá vem;
É uma falua
Que vem de Belém.

Peço ao senhor barqueiro
Que me deixe passar,
Tenho filhos pequeninos
Pra acabar de criar.

Passarás, passarás,
Mas algum deixarás,
Se não for a mãe à frente
Será o filho lá atrás.

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A CAMINHO DE VISEU:

Indo eu, indo eu
A caminho de Viseu.
Encontrei o meu amor,
Ai Jesus que lá vou eu.

(…)

Ora zus, truz, truz
Ora zás, trás, trás.
Ora chega, chega, chega,
Ora arreda lá pra trás.

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ORA PONHA AQUI O SEU PEZINHO:

Ora ponha aqui,
Ora ponha aqui o seu pezinho.
Ora ponha aqui,
Ora ponha aqui ao pé do meu.

Ao retirar,
Ao retirar o pezinho,
Ai cada qual,
Cada qual fica com o seu.

Ora ponha aqui
Ora ponha aqui o seu pezinho.
Ora ponha aqui
Ora ponha aqui ao pé do meu.

Ao retirar,
Ao retirar o pezinho,
Ai um abraço,
Um abraço lhe dou eu.

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ORA DIZEM BEM/MAL DOS CAÇADORES:

Ora dizem bem,
Ora dizem mal dos caçadores,
Ai por matarem,
Ai por matarem os pardais.

Ai os teus olhos,
Os teus olhos, ó menina,
Ainda matam,
Ainda matam muito mais.

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OLIVEIRINHA DA SERRA:

Ó oliveirinha da serra,
O vento leva a flor;
O-i-o-ai, só a mim ninguém me leva
O-i-o-ai, lá pro pé do meu amor.

(...)

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MALMEQUER, BEM ME QUER:

Desfolhei um malmequer
No lindo jardim de Santarém.
Malmequer, bem me quer
Muito longe está quem me quer bem.

Ó malmequer mentiroso,
Quem te ensinou a mentir?
Tu dizes que me quer bem
Quem de mim anda a fugir!

Coitado do malmequer
Sem fazer mal a ninguém;
São todos a desfolhá-lo
Pra ver quem lhe quer bem!

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LÁ EM CIMA ESTÁ O TIROLIRO:

Lá em cima está o tiro-liro-liro
Cá em baixo está o tiro-liro-ló.
Juntaram-se os dois à esquina
A tocar a concertina
E a dançar o solidó.

A criada lá de cima
É feita de papelão;
Quando vai fazer a cama,
Diz assim para o patrão:

Sete e sete são catorze
Com mais sete são vinte e um.
Tenho sete namorados
E não gosto de nenhum.

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LÁ VAI UMA, LÁ VÃO DUAS:

Lá vai uma, lá vão duas
Três pombinhas a voar;
Uma é minha, outra é tua
Outra é de quem a apanhar.

A criada lá de cima
É feita de papelão.
Quando vai fazer a cama
Diz assim para o patrão:

Sete e sete são catorze,
Com mais sete são vinte e um;
Tenho sete namorados
Mas não gosto de nenhum.

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Pico, pico, sarapico,
Quem te pôs a mão no bico?
Foi uma vaca chocalheira
Que anda aqui na roda inteira.

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A bola é redonda
A cavalo numa pomba;
A pomba é branca
A cavalo numa tranca;
A tranca é de pau
Partiu-se: barimbau, barimbau!

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OS DEDOS:

Dedo mindinho
Seu vizinho
Pai de todos
Fura bolos
Mata piolhos.

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CONTAGEM

Una
Duna
Tena
Catena
Sebala
Badala
Pinca
Repinca
Conta bem
Que são dez.

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  Então, e depois?
Morreram as vacas,
Ficaram os bois.

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ATIREI O PAU AO GATO:

Atirei o pau ao gato-to
Mas o gato-to não morreu
Não morreu-eu-eu.

Dona Chica-ca assustou-se-se
Com o berro, com o berro
Que o gato deu: miau!

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A PULGA MALDITA:

Assentada à chaminé-é-é;
Veio uma pulga-ga,
Mordeu-lhe o pé-é-é.

Ou ela chora ou ela grita;
Ora vai-te embora,
Pulga maldita...

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ÁGUA LEVA O REGADINHO:

Água leva o regadinho
Água leva e vai regar;
 Enquanto leva e não leva
Ao meu amor vou falar.

Água leva o regadinho
Água leva o regador;
Enquanto leva e não leva
Vou falar ao meu amor.

Água leva o regadinho
Vai regar o almeirão;
Enquanto rega e não rega
Vou falar ao meu João.

Água leva o regadinho
Vai regar o meu jardim;
Enquanto rega e não rega
Vou falar ao meu Joaquim.

Água leva o regadinho
Água leva e vai regando;
Enquanto rega e não rega
Ao meu amor vou falando!

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ALECRIM:

Alecrim, alecrim aos molhos
Por causa de ti choram os meus olhos.
Ai meu amor quem te disse a ti
Que a flor do monte era o alecrim?

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O BALÃO:

Meu lindo balão-ão-ão
Pelo ar subiu-iu-iu
Mas caiu ao chão-ão-ão
Ninguém mais o viu-iu-iu.

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A BARATA:

A barata diz que tem
Sapatinhos de veludo.
É mentira da barata
Ela tem o pé peludo!

A barata diz que tem
Sapatinhos de fivela.
É mentira da barata
Os sapatos não são dela!

A barata diz que tem
Uma cama de marfim.
É mentira da barata
Ela dorme no capim!

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JOSEZITO:

Josezito, já te tenho dito
Que não é bonito
Andares m´a enganar.

Chora agora, Josezito chora
Que me vou embora
Pra não mais voltar.

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Ó JOSÉ, APERTA O LAÇO

Ó José, aperta o laço
Ó José, aperta-o bem.
Que o laço bem apertado
Ai, ó José, fica-te bem.

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DOBA, DOBA, DOBADOIRA:

Doba, doba, dobadoira
Não me 0 a meada;
O novelo ainda é pequeno
E eu já tenho a mão cansada.

O novelo ainda é pequeno,
Não me enche a minha mão;
Doba, doba, dobadoira,
Amor do meu coração!

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NA LOJA DO MESTRE ANDRÉ:
 
Foi na loja do mestre André que eu comprei um pifarito.
Tiro-liro-liro, o pifarito.
Ai - ó - lé, ai - ó - lé, foi na loja do mestre André!

Foi na loja do mestre André que eu comprei um pianinho.
Plim-plim-plim, o pianinho.
Tiro-liro-liro, o pifarito.
Ai - ó - lé, ai - ó - lé, foi na loja do mestre André.

Foi na loja do mestre André que eu comprei um tamborzinho.
Tum-tum-tum, o tamborzinho.
Plim-plim-plim, o pianinho.
Tiro-liro-liro, o pifarito.
Ai - ó - lé, ai - ó - lé, foi na loja do mestre André!

Foi na loja do mestre André que eu comprei uma campainha.
Tlim-tlim-tlim, a campainha.
Tum-tum-tum, o tamborzinho.
Plim-plim-plim, o pianinho.
Tiro-tiro-tiro, o pifarito.
Ai - ó - lé, ai - ó - lé, foi na loja do mestre André!

Foi na loja do mestre André que eu comprei uma rabequinha.
Rec-rec-rec, a rabequinha.
Tlim-tlim-tlim, a campainha.
Tum-tum-tum, o tamborzinho.
Plim-plim-plim, o pianinho.
Tiro-tiro-tiro, o pifarito.
Ai - ó - lé, ai - ó - lé, foi na loja do mestre André!

Foi na loja do mestre André que eu comprei um rabecão.
Rão-rão-rão, o rabecão.
Rec-rec-rec, a rabequinha.
Tlim-tlim-tlim, a campainha.
Tum-tum-tum, o tamborzinho.
Plim-plim-plim, o pianinho.
Tiro-tiro-tiro, o pifarito.
Ai - ó - lé, ai - ó - lé, foi na loja do mestre André!

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(a seguinte não é da nossa terra, mas era cantada pelas minhas filhas, que a aprenderam no infantário):

AS MULHERES DO MONTE:

As mulheres do monte
Quando vão à vila
Levam cestas d´ovos
Galinhas em cima.

Uma vez a uma
Caiu a cestinha;
Partiram-se os ovos
Fugiu a galinha!

Chegando ao outeiro,
Pita, pita, pita...
Quanto mais chamava
Mais ela fugia.

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AS POMBINHAS DA CATRINA:

As pombinhas da Catrina,
Andaram de mão em mão,
Foram ter à Quinta Nova,
Ao pombal de S. João.

Ao pombal de S. João,
À Quinta da Roseirinha.
Minha mãe mandou-me à fonte
E eu parti a cantarinha.

Ó minha mãe, não me bata
Que eu ainda sou pequenina.
Não te bato porque achaste
As pombinhas da Catrina.

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O MALHÃO:

Ó Malhão, Malhão,
Que vida é a tua?
(bis)

Comer e beber,
Ó perlim-pim-pim
Passear na rua.
(bis)

Ó Malhão, Malhão,
Quem te deu as meias?
(bis)

Foi o caixeirinho,
Ó perlim–pim-pim,
Das pernas feias.
(bis)

Ó Malhão, Malhão,
Quem te deu as botas?
(bis)

Foi o caixeirinho,
Ó perlim-pim-pim,
Das pernas tortas.
(bis)

Ó Malhão, Malhão,
Ó Malhão do Norte,
(bis)

Quando o mar está bravo,
Ó perlim-pim-pim,
Faz a onda forte.
(bis)

Ó Malhão, Malhão,
Ó Malhão do Sul,
(bis)

Quando o mar está manso,
Ó perlim-pim-pim,
Faz a onda azul.
(bis)

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AO PASSAR A RIBEIRINHA:

Ao passar da ribeirinha,
Pus o pé, molhei a meia.
Não casei na minha terra,
Fui casar em terra alheia.

Se tu és o meu amor,
Dá-me cá abraços teus.
Se não és o meu amor,
Vai-te embora, adeus, adeus.

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Ó MINHA MÃE!

Minha mãe é pobrezinha
Não tem nada pra me dar;
Dá-me beijos, coitadinha
E depois põe-se a chorar.

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Ó ROSA, ARREDONDA A SAIA:

Ó Rosa, arredonda a saia
Ó Rosa, arredonda-a bem.
Ó Rosa, arredonda a saia
Olha a roda que ela tem.

Olha a roda que ela tem
Olha a roda que ela tinha.
Ó Rosa, arredonda a saia
Arredonda-a redondinha.

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QUANDO EU ERA PEQUENINA(O):

Quando eu era pequenina(o)
Acabada(o) de nascer,
Ainda mal abria os olhos
Já era para te ver.

Quando eu já for velhinha(o)
Acabada(o) de morrer,
Olha bem para os meus olhos
Que já não te podem ver.

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O DEUS-MENINO:

Olhei para o Céu
Estava estrelado.
Vi o Deus-Menino
Em palhas deitado.

Em palhas deitado
Em palhas estendido.
Filho duma rosa
Dum cravo nascido.

Arre, burriquito,
Vamos a Belém
Ver o Deus-Menino
Que a Senhora tem.

Que a Senhora tem
Que a Senhora adora;
Arre burriquito,
Vamos lá embora.

Eu hei de dar ao Menino
Uma fitinha pro chapéu
E ele também me há de dar
Um lugarzinho no Céu.

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CORVO MALDITO:

- Corvo maldito, que levas no bico?
- Uma sardinha assada.
- Quem t'assou?
- Foi a Maria do Vale do Grou.
- Que é da Maria?
- Foi à água.
- Que é da água?
- Bebeu o boi.
- Que é do boi?
- Foi semear o milho.
- Que é do milho?
- Comeu-o a galinha.
- Que é da galinha?
- Foi pôr o ovo.
- Que é do ovo?
- Comeu-o o homem.
- Que é do homem?
- Levou-o a morte…

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Ó ROSINHA DO MEIO:

Ó Rosinha, ó Rosinha do meio,
Vem comigo malhar o centeio.
O centeio, o trigo, a cevada.
Ó Rosinha, tu és minha amada.

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MARCHA, SOLDADO:

Marcha, soldado
Cabeça de papel.
Se não marchas direito,
Vais preso p'ro quartel.

Marcha, soldado
Cabeça de cartolina.
Se não marchas direito,
Vais já para a cantina.

Marcha, soldado
Cabeça de galinha.
Se não marchas direito,
Vais já para a cozinha.

Um e dois e três
E quatro e cinco e seis
Sete e oito e nove
Para doze, faltam três.

Corri a Espanha toda
A cavalo num burrito
E os espanhóis disseram:
Que burrito tão magrito.

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ORA BATE, BATE, BATE:

Ora bate, bate, bate
Cantava a rolinha:
Ru-ru, ru-ru
No ninho, sozinha.

Ora bate, bate, bate
Cantava o cuquinho:
Cu-cu, cu-cu
No alto raminho.

Ora bate, bate, bate
Cantava o grilinho:
Gri-gri, gri-gri
No seu buraquinho.

Ora bate, bate, bate
Cantava a poupinha:
Poupai, poupai
Que eu sou pobrezinha.

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TIA ANICA:

Tia Anica, tia Anica,
Tia Anica da Fuseta;
A quem deixaria ela
A barra da saia preta?

Tia Anica, tia Anica,
Tia Anica de Loulé;
A quem deixaria ela
A caixinha do rapé?

Olé, olá
Esta vida não está má;
Olá, olé,
Tia Anica de Loulé.

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OS OLHOS DA MARIA ANITA:

Os olhos da Maria Anita
São verdes cor do limão,
Ai sim, Maria Anita, ai sim
Ai não, Maria Anita, ai não.

Os olhos da Maria Anita
São negros cor do carvão,
Ai sim, Maria Anita, ai sim
Ai não, Maria Anita, ai não.

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A PLAINA CORRE LIGEIRA:

A plaina corre ligeira
Chária, chária, chária - ô.
Limando, lima a madeira
Chária, chária, chária - ô.

A plaina corre ligeira
Chária, chária, chária - ô.
Tornando, alisa a madeira
Chária, chária, chária - ô.

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AS CARVOEIRAS:

São tão bonitas as carvoeiras,
São tão catitas e feiticeiras.
Óh que belo rancho da mocidade!
Dançai raparigas, viva a liberdade!

Liberdade, liberdade,
Quem a tem chama-lhe sua.
Eu não tenho liberdade
Nem p'ra pôr o pé na rua.

São tão engraçadas as carvoeiras,
Enfarruscadas, passam ligeiras.
Parecem morenas, é do carvão.
São boas pequenas, de bom coração.

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PESCADOR DA BARCA BELA:

Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Ó pescador?

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela…
Tem cautela,
Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela,
Só de vê-la,
Ó pescador!

Não vês que a última estrela,
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!

Pescador da barca bela,
Ainda é tempo, foge dela...
Foge dela,
Ó pescador!

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EU PEDI-TE UM BEIJO:

Ó Helena,
Ó Helena,
Eu pedi-te um beijo,
Eu pedi, pedi.

Tu por mim passaste,
Nem pra mim falaste,
Nem pra mim olhaste,
Mas eu bem te vi.

Passares e não me falares
Isso não pode ser;
Passares e não me olhares
Isso pra mim é morrer!

Minha amora negra,
Meu amor silvestre,
Toda a gente soube
Que um beijo me deste!

Um beijo é desejo
Que a ninguém se nega,
Meu amor silvestre,
Minha amora negra.

Eu vi-te de manhãzinha
Pela tarde te falei;
O que fizemos à noite
A ninguém contarei.

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DONDE VENS TU, Ó CARMINDA?:

– Donde vens tu, ó Carminda?
Ó Carminda, donde vens?
– Venho além da Portela,
De acompanhar minha mãe.

De acompanhar minha mãe
E agora venho aqui.
Deixa-me passar que é tarde
E minha avó espera por mim.

– Não te deixo aqui passar
Sem uma fala me dares,
Sem uma jura fazeres
De comigo casares.

– Essa jura não a faço
Nem a ti nem a ninguém.
Pois não quero casar
Assim estou muito bem.

– Dizes que assim estás bem
Mas eu não te deixo estar,
Deito-te as mãos ao pescoço,
Carminda, vou-te matar.

– Tu dizes que me vais matar,
Eu também quero morrer.
Deixa-me sozinha estar,
Que eu não te quero ver.

Apertou-lhe então a garganta
Com a força que podia ter.
E matou ali Carminda
Sem ninguém poder valer...

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A CANÇÃO DO DÓ:

Eu perdi o dó da minha viola
Da minha viola eu perdi o dó.
Dormir é muito bom, é muito bom;
Dormir é muito bom, é muito bom.

É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom!

Eu perdi o ré da minha viola
Da minha viola eu perdi o ré.
Remar é muito bom, é muito bom;
Remar é muito bom, é muito bom.

É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom!

Eu perdi o mi da minha viola
Da minha viola eu perdi o mi.
Mirar é muito bom, é muito bom;
Mirar é muito bom, é muito bom.

É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom!

Eu perdi o fa da minha viola
Da minha viola eu perdi o fa.
Falar é muito bom, é muito bom;
Falar é muito bom, é muito bom.

É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom!

Eu perdi o sol da minha viola
Da minha viola eu perdi o sol.
Sonhar é muito bom, é muito bom;
Sonhar é muito bom, é muito bom.

É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom!

Eu perdi o lá da minha viola
Da minha viola eu perdi o lá.
Lavar é muito bom, é muito bom;
Lavar é muito bom, é muito bom.

É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom!

Eu perdi o si da minha viola
Da minha viola eu perdi o si.
Silêncio é muito bom, é muito bom;
Silêncio é muito bom, é muito bom.

É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom camarada, é bom camarada;
É bom, é bom, é bom.
É bom!

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 A SAIA DA CAROLINA:

A saia da Carolina
Tem um lagarto pintado.
Sim, Carolina ó - i - ó - ai;
Sim, Carolina ó - ai, meu bem.

Tem cuidado, ó Carolina:
Se o lagarto dá ao rabo.
Sim, Carolina ó - i - ó - ai;
Sim, Carolina ó - ai, meu bem.

A saia da Carolina
Não tem prega, nem botão.
Sim, Carolina ó - i - ó - ai;
Sim, Carolina ó - ai, meu bem.

Tem cautela, ó Carolina:
Não te caia a saia ao chão.
Sim, Carolina ó - i - ó - ai
Sim, Carolina ó - ai, meu bem.

A saia da Carolina
Tem uma barra encarnada.
Sim, Carolina, ó -i - ó - ai;
Sim, Carolina ó - ai, meu bem.

Tem cuidado, ó Carolina:
Não fique a saia rasgada.
Sim, Carolina ó - i - ó - ai;
Sim, Carolina ó - ai, meu bem.

A saia da Carolina
É da mais fina cambraia.
Sim, Carolina ó - i - ó - ai;
Sim, Carolina ó - ai, meu bem.

Tem cautela, ó Carolina:
Que o lagarto leva-te a saia.
Sim, Carolina ó - i - ó - ai;
Sim, Carolina ó - ai, meu bem.

A saia da Carolina
Foi lavada com sabão.
Sim, Carolina ó - i - ó - ai;
Sim, Carolina ó - ai, meu bem.

Tem cuidado, ó Carolina:
Não lhes deixes por a mão.
Sim, Carolina ó - i - ó - ai;
Sim, Carolina ó - ai, meu bem.

A saia da Carolina
É curta e das modernas.
Sim, Carolina ó - i - ó - ai;
Sim, Carolina ó - ai, meu bem.

Tem cautela, ó Carolina,
Que ela não te tape as pernas.
Sim, Carolina ó - i - ó - ai;
Sim, Carolina ó - ai, meu bem.

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O VIRA DA NAZARÉ:

A sardinha cai na rede descuidada
Vai encher o galeão.
Ela é fresca, prateada
Aos saltinhos pelo chão.

Vai de roda, vai de roda
Cada um bate o seu pé.
Não há vira mais bonito
Que o Vira da Nazaré.

O Vira da Nazaré
É fácil de aprender:
É andar c'um pé no ar
E outro no chão a bater.

Ó vira que vira
E torna a virar;
As voltas do Vira
Só eu as sei dar.

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É MENTIRA, É MENTIRA:

Ó que lindo chapéu preto
Naquela cabeça vai!
Ó que lindo rapazinho
Para genro de meu pai!

É mentira, é mentira,
É mentira, sim senhor!
Eu nunca pedi um beijo,
Quem mo deu foi meu amor!

A azeitona já está preta,
Já se pode armar aos tordos! 
Diz-me lá, ó cara linda, 
Como vais tu de amores novos!


É mentira, é mentira,
É mentira, sim senhor!
Eu nunca pedi um beijo,
Quem mo deu foi meu amor!

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O CUCO NA FLORESTA:

Estava na floresta
Um cuco a cantar.
Por trás duma giesta
Nós fomos escutar:
Cucu, cucu;
Cucu, curu, cucu...

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DOIDAS, DOIDAS:

Doidas, doidas, doidas
Andam as galinhas
Para pôr o ovo
Lá no buraquinho:

Rapam, rapam, rapam
Ajeitando a terra;
Picam, picam, picam
Pra fazer o ninho.

Arrebita a crista
O galo vaidoso:
Có-có-ró, có-có
Todo magestoso.

...


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Contos tradicionais:

1. O CUCO E AS COUVES:

(cantado)

Era uma vez um cuco
Que não gostava de couves.
E andava sempre a dizer:
"Couves não hei de comer"!

Mandou-se chamar o pau.
Mas o pau não quis bater no cuco.
E o cuco não quis comer as couves.
E andava sempre a dizer "couves não hei de comer".

Mandou-se chamar o fogo.
Mas o fogo não quis queimar o pau.
O pau não quis bater no cuco.
E o cuco não quis comer as couves.
E andava sempre a dizer "couves não hei de comer".

Mandou-se chamar a água.
Mas a água não quis apagar o fogo.
O fogo não quis queimar o pau.
O pau não quis bater no cuco.
E o cuco não quis comer as couves.
E andava sempre a dizer "couves não hei de comer".

Mandou-se chamar a vaca.
Mas a vaca não quis beber a água.
A água não quis apagar o fogo.
O fogo não quis queimar o pau.
O pau não quis bater no cuco.
E o cuco não quis comer as couves.
E andava sempre a dizer "couves não hei de comer".

Mandou-se chamar o homem.
Mas o homem não quis ir buscar a vaca.
A vaca não quis beber a água.
A água não quis apagar o fogo.
O fogo não quis queimar o pau.
O pau não quis bater no cuco.
E o cuco não quis comer as couves.
E andava sempre a dizer "couves não hei de comer".

Mandou-se chamar a morte para levar o homem.
Então o homem já quis ir buscar a vaca.
A vaca já quis beber a água.
A água já quis apagar o fogo.
O fogo já quis queimar o pau.
O pau já quis bater no cuco.
E o cuco já quis comer as couves…

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2. A FORMIGA E A NEVE:

Certo dia, uma formiga, quando andava a procurar comida para guardar no seu formigueiro, foi apanhada por um floco de neve e o seu pé ficou preso. Muito aflita, ela disse à neve:
– Ó neve, tu és tão forte que o meu pé prendes! Solta-me.
– Mais forte do que eu é o Sol que me derrete! Pede-lhe a ele – respondeu a neve.
Então, a formiga, virando-se para o Sol, pediu:
– Ajuda-me, ó Sol, tu que és tão forte que derretes a neve que o meu pé prende!
– Mais forte do que eu é a nuvem que me tapa! – respondeu o Sol.
– Ajuda-me, ó nuvem, tu que és tão forte que tapas o Sol que derrete a neve que o meu pé prende!
– Mais forte do que eu é o vento que me empurra! – disse a nuvem.
– Ó vento, ajuda-me, tu que és tão forte que empurras a nuvem, que tapa o Sol, que derrete a neve que o meu pé prende!
– Mais forte do que eu é a parede que me segura! – lamentou-se o vento.
– Ajuda-me tu, ó parede, que és tão forte que seguras o vento, que empurra a nuvem, que tapa o Sol,  que derrete a neve que o meu pé prende!
– Mais forte do que eu é o rato que me fura! – respondeu a parede.
– Ajuda-me, ó rato, tu que és tão forte que furas a parede, que segura o vento, que empurra a nuvem, que tapa o Sol, que derrete a neve que o meu pé prende!
– Mais forte do que eu é o gato que me come! – disse o rato.
– Ó gato, então ajuda-me tu que és tão forte que comes o rato, que fura a parede, que segura o vento, que empurra a nuvem, que tapa o Sol, que derrete a neve que o meu pé prende!
– Mais forte do que eu é a mulher que me trata. – retorquiu o gato.
– Ajuda-me, mulher, tu que és tão forte que tratas do gato, que come o rato, que fura a parede, que segura o vento, que empurra a nuvem, que tapa o Sol, que derrete a neve que o meu pé prende!
Então a mulher teve pena e retirou cuidadosamente a neve de cima do pé da formiga e, assim, ela pôde continuar o seu caminho.

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3. A RAPOSA E O GALO:

     Uma vez, umas galinhas e um galo subiram para cima de uma árvore, para fugirem duma raposa. Então esta, matreira, aproximou-se e disse:
     – Compadre galo, sabes que podeis descer daí e ficar em segurança, porque agora há uma lei que determina que haja paz entre todas as aves e animais do mundo?! Portanto, desçam e festejaremos este dia.
     O galo percebeu logo a mentira. Então, respondeu:

     – Essas novidades são boas e alegres! E são já conhecidas de todos os animais?
     – Claro que sim! E, mesmo que eles o não saibam, o desconhecimento não desculpa o cumprimento da lei. E porque pergunta o compadre isso?
     – É que vejo além vir uns caçadores com os seus cães. Deixemos-los chegar e vamos festejar todos juntos...
     Porém, a raposa, não quis esperar e foi-se embora, dizendo:
     – Tenho receio que ainda o não saibam e me matem...
     Enquanto ela fugia, o galo gritava-lhe:
     – Mostre-lhes a lei, comadre, mostre-lhes a lei...
     Mas ela desapareceu num instante. E assim, galinhas e galo ficaram a salvo.

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4. UMA MENTIRA COMPENSADORA:

Numa aldeia, havia dois compadres: um deles devia bastante dinheiro ao outro. Certo dia, o que era credor, falando com o afilhado, disse a este:
– Perdoava a dívida ao teu pai se me contasses uma mentira "tão grande como a do padre-nosso" (ou seja, uma história tão bem contada que ele nem desconfiasse que era mentira...).
– Está bem, padrinho, dá a sua palavra?
– Sim, claro.
– Então, vou pensar nisso, padrinho.
Os dias foram passando até que esse compadre se esqueceu do prometido. Mas o afilhado, não. Depois de bem pensar em como enganar o padrinho, certo dia, dirigiu-se a ele e perguntou:
– Ó padrinho, posso lhe contar uma história passada com o meu pai?
– Sim, afilhado, conta lá.
– Olhe, padrinho: o meu pai tem tantas colmeias, que nem sabe quantas são. Mas sabe o total de abelhas que elas têm. Um dia foi visitar as colmeias e faltava-lhe uma abelha. Procurou-a por montes e vales até que ouviu um ruído: era um lobo a comer a abelha, devorando, a custo, os ossos dela. Afugentou o lobo, pegou na abelha moribunda e tratou-a, resolvendo ainda aproveitar o mel dela. Espremeu-a, torcendo, e dela sairam apenas umas gotas de mel. Mas, ao destorcê-la, aquilo é que foi deitar mel: aproveitou 2 alqueires, sim 20 litros!...
– Sim, sim!
– Mas o meu pai, que foi apanhado desprevenido, não tinha onde colocar o mel. Pensou, pensou, até que  achou um piolho na cova do braço; esfolou-o, fez um couro e conseguiu guardar nele cerca de 10 litros de mel. No outro sovaco achou outro piolho, a quem fez o mesmo. Pronto, estava guardado todo o mel. E agora, como atar os couros? A solução foi arrancar 2 pelos da palma da mão. Cada pelo, singelo, não chegava para atar o couro mas, dobrado, sobrava-lhe metro e meio...
– Pois, pois...
– Depois, era preciso transportar o mel para casa. Foi, então, ao carpinteiro que, com umas tábuas, fez uns alforges para a burra. Colocou o mel em cima e lá o conseguiu levar. Mas o animal ficou muito ferido. Foi falar com o ferrador, que o aconselhou a fazer uma mezinha: colocar favas moídas nas feridas da burra. O meu pai, descuidado ou não sabendo bem como aquilo era, atirou com 2 favas para cima da burra. Mas como naquela altura vieram uns dias húmidos ou choveu muito, o meu pai viu, com surpresa, nascer em cima da burra um grande faval. O meu pai deixou, então, criar aquilo tudo, para aproveitar, não é?
– Que grande sorte!
– Pois foi, padrinho! Quando as favas já estavam maduras, o meu pai foi ceifá-las. Quando ia a começar, do meio do faval surgiu um grande javali. O meu pai, para o afugentar, atirou-lhe com a foice. Foi tal a pontaria que a foice se espetou na ponta do seu rabo. O javali, espavorido, abanando o rabo, espezinhando e arfando, ia cortando as favas, pisava-as e limpava-as. Aquilo é que foi um trabalho rápido e bem feito!
– E colheu muitas favas?
– Olhe, padrinho: com isto o meu pai arranjou sacos e sacos de favas. Fartou-se de comer favas, vendeu e deu favas a toda a gente, da aldeia e de fora. Por exemplo, só ao padrinho deu ele alguns 10 sacos de favas!...
– Não, senhor, é mentira: a mim não deu favas nenhumas... Espera lá, seu maroto. Estás a enganar-me!
– Ó padrinho, ainda não percebeu?! Esta era a grande mentira que eu lhe queria contar, para perdoar a dívida ao meu pai.
– Com esta bem me enganaste, bem me levaste, seu grande maroto...
E não teve outro remédio senão perdoar a dívida ao compadre, já que queria continuar a ser um homem de palavra...
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5.
 O JOÃO PATETA:

Uma mulher da aldeia tinha um filho, que era muito desajeitado. Numa altura em que a mãe estava  adoentada, tinha de mandar o João à vila, a fazer algumas compras. Então, um dia, disse-lhe:
– João, preciso que vás à feira comprar um porco, para engordarmos até à matança. Mas tem cuidado para ele não fugir.

O João lá foi e comprou o porco. Virando-se para o animal, que achava pesado, perguntou-lhe: 
– Sabes o caminho para a minha casa? O porco fez "rom, rom, rom". 
– Está bem; então vai andando que eu já lá vou ter...

Quando chegou a casa sem o porco, a mãe perguntou:
– João, então o porco? Não o comprastes?
– Comprei sim, mãe. E ele disse que sabia o caminho para casa... Já devia ter cá chegado...
– Ó João, seu pateta! Não era assim que fazias. Se não podias com ele para o trazer para casa, atavas-lhe uma corda a uma pata e vinhas conduzindo-o até cá. 
– Ah, sim?! Está bem, mãe; para a outra vez já sei.
Um tempo depois, a mãe mandou-o ir comprar uma cântara. O João lembrou-se do conselho da mãe, atou um cordel à asa da vasilha e puxou até casa. Claro que chegou apenas com um pequeno caco agarrado.

– Ó seu pateta, não era assim que fazias! Pedias a um vizinho para ele ta trazer na carroça, em cima de um pouco de palha.
– Está bem, mãe; para a outra vez já sei.

Na vez seguinte, a mãe mandou-o comprar umas agulhas. O João pegou nas agulhas e atirou-as para cima da palha da carroça do vizinho. Mais tarde, procurou-as mas nunca mais as achou, claro.

– Continuas o mesmo pateta e desastrado de sempre. Porque não te lembraste de trazer as agulhas espetadas na gola do teu casaco? Vê lá se começas a pensar, rapaz.
– Está bem, mãe; para a próxima vez já sei.

No dia seguinte, a mãe mandou-o comprar-lhe uma relha para o arado. O João Pateta, mais uma vez, lembrando-se do conselho da mãe, forçou a relha contra a gola do seu casaco e, claro, chegou a casa com ele todo roto...

Na próxima feira, como a mãe já estava boa de saúde e farta das asneiras do filho, resolveu ir ela às compras. Mas, antes de sair de casa, recomendou ao João: 

– Filho, hoje ficas sozinho em casa. Mas tem cuidado: não mexas na pipa do vinho, porque podes não conseguir fechar a torneira. Vigia as galinhas, porque a raposa anda por perto, e tem cuidado porque uma está no choco. Ah, e não comas o que está naquela taça do armário, porque é veneno (apontou para o açúcar).

Um pouco depois da mãe sair, o João sentiu sede e resolveu ir à adega. Abriu a torneira da pipa e bebeu, bebeu até que se embebedou. Depois, como não conseguia fechá-la, lembrou-se de a tapar com o rabo do cão, mas como este o seguia para todo o lado, o vinho derramou-se todo no chão. Ainda lhe espalhou farinha por cima, mas não conseguiu disfarçar a asneira...

O João, bêbado e já farto de tanto disparate, pensou então em matar-se com o veneno do armário: comeu algum e espalhou o resto pelo chão. Como não conseguiu matar-se desta forma, decidiu pegar num machado. Atirava-o ao ar, por cima de si, mas sempre se desviava, pois "podia magoar-se!", pensava...

Ainda tentou enforcar-se com uma corda, mas, ao experimentar, sentiu que "lhe faltava o ar" e desistiu!...

Lembrou-se, então, das galinhas, como a mãe lhe tida recomendado. "– Vou vigiá-las, para a raposa não as levar", disse para consigo. Mas quando chegou ao pé da capoeira já a raposa tinha passado e comido ou morto todas as galinhas. O João viu então os ovos, que uma delas estava a chocar, todos espalhados e a ficar frios. Juntou-os num canto e resolveu sentar-se em cima deles, para os manter quentes. Assim, adormeceu. 

Passado algum tempo, a mãe chegou da feira. Logo se deparou com o triste espetáculo, na cozinha e na adega. Começou, então, a chamar:
– João, ó João, meu grande pateta, onde estás, onde te escondeste?
Então ouviu uma voz rouca, vinda da capoeira:

– Cró, cró, croche, croche, estou a chocar ovos; croche, croche, estou a chocar ovos...




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6. O TOURINHO AZUL:
(provavelmente,  em breve)

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7.
 A VELHA E O GATO:

(
cantado, para os miúdos)

Era uma velha
Que morava numa ilha
E tinha um gato
Com olhos cor de ervilha.

Mas esse gato
Era muito lambareiro.
De vez em quando
Andava só ao cheiro.

E certo dia
Roubou-lhe um chouriço
Ai sem a velha,
Sem a velha dar por isso.

O homem chega,
Chega p´ra jantar
 
E encontra a velha,
A velha a soluçar.

– Mas, ó mulher,
Ó mulher, o que foi isso?
– Foi o nosso gato
Que me roubou o chouriço.

Então o homem
Pega num cacete
E faz o gato
 
Andar de robolete...


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Vozes de Animais:


Vozes de animais:

Palram pega e papagaio
E cacareja a galinha;
Os ternos pombos arrulham;
Geme a rola inocentinha.

Muge a vaca, berra o touro;
Grasna a rã, ruge o leão;
O gato mia; uiva o lobo,
Também uiva e ladra o cão.

Relincha o nobre cavalo;
Os elefantes dão urros;
A tímida ovelha bale;
Zurrar é próprio dos burros.

Regouga a sagaz raposa
(Bichinho muito matreiro);
Nos ramos cantam as aves;
Mas pia o mocho agoureiro.

Sabem as aves ligeiras
O seu canto variar;
Fazem gorjeio às vezes,
Às vezes põem-se a chilrar.

O pardal, daninho aos campos,
Não aprendeu a cantar;
Como os ratos e as doninhas
Apenas sabe chiar.

O negro corvo crocita;
Zune o mosquito enfadonho;
A serpente no deserto
Solta assobio medonho.

Chia a lebre; grasna o pato;
Ouvem-se os porcos grunhir;
Libando o suco das flores,
Costuma a abelha zumbir.

Bramam os tigres, as onças;
Pia, pia o pintainho;
Cucurica e canta o galo;
Late e gane o cachorrinho.

A vitelinha dá berros;
O cordeirinho, balidos;
O macaquinho dá guinchos;
A criancinha, vagidos.

A fala foi dada ao Homem,
Rei dos outros animais.
Nos versos lidos acima
Se encontram, em pobre rima,

As vozes dos principais.”

Autor: Pedro Dinis

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- Serapico, pico, pico,
Quem te pôs a mão no bico?
- Foi uma gata borralheira,
Que anda aqui na noite inteira.
(...)

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Por este vale abaixo
Eu porque (porco) venho, venho
Eu porque (porco) digo, digo:
Venho perguntar à menina
Se quer casar comigo.


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ERA NÃO ERA:

Era uma vez o Era e Não Era,
Valente jovem de 90 anos:
À meia-noite em ponto menos 1 minuto,
Andava lavrando no pico duma serra.

A certa altura,
Puxou um banco de pedra feito de pau.
E pôs-se a ler um livro fechado,
À luz apagada duma candeia acesa...

E o livro dizia:
Hás-de morrer afogado
Numa piscina de água, vazia.
Aí sentiu-se aliviado.

No livro, também ouviu a notícia
De que o seu pai estava morto
E a sua mãe por nascer.

Então pôs os pés à cabeça:
O que havia de fazer?
Atou o arado a uma moita,
Pôs os bois às costas
E abalou, a correr.

Mas lá mais adiante,
Ao pular um valado,
Se não fosse um cão,
Mordia-lhe um cajado.

Tendo-lhe dado a sede,
Resolveu descer a uma pereira
Para apanhar as maçãs.

Veio o dono e, suavemente, disse:
Porque andas tu aí
Nas minhas avelãs?

Atirou-lhe com uma pedra,
Que, de raspão,
Lhe acertou nos 3 artelhos,
Escorrendo o sangue até aos joelhos.

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Actualização de: 02out2022

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