Tudo, incessantemente tudo, até as memórias
desenhadas, redesenhadas, percorrem a nudez
do chão raso de poeira, desnudado de rosas,
terra magra e enxuta dos que já partiram, dos
poucos que ainda estão, canto ritmado de cigarras
e grilos – sentado nos varais duma carroça vejo
tempos em que tudo fervilhava…
Um poço, um algeirós de pedra, uma roseira...
um amontoado de silvas e tábuas velhas, o que
resta duma picota – um poço vazio, no fundo
partes dum fogão, um vime a querer sobreviver…
Um poço, um algeirós de pedra, uma roseira…
Uma roseira, mais velha que o tempo, que sobreviveu
às intempéries e ao abandono, jovem e bela
aos meus olhos, perfumada, filha da terra,
mãe de muitos amores – quantas casas e quantas mesas
terá encantado antes de ser um pouco minha,
antes de fazer parte, de ser a rainha do meu jardim?…
Um poço, um algeirós de pedra, uma roseira…
E eu aqui, a roseira e rosas – únicas, perenes no
meu encantamento, no amor à terra onde nasci,
e a ti…
António Alves
21/06/2017