A lenha/toros era transportada numa carroça (se necessário, duas), que os rapazes puxavam e/ou empurravam. Lembro-me de algumas vezes ter de ser levada pelo ar, ou então rodar muito devagar, para não fazer barulho ao passar junto de casas/pessoas doutras aldeias...
Além da carroça, muníamo-nos de serras, serrotes (raramente machados, para não fazer muito ruído), cordas e picaretas/enxadões... O pessoal era obrigado a bom esforço físico, tanto para cortar e carregar as árvores, como para fazer rolar a carroça, por diversos tipos de piso... E, no escuro da noite, só tínhamos a ajuda do luar ou de lanternas a pilhas ("foxes").
Havia uma grande rivalidade entre aldeias vizinhas, cada qual tentando surpreender (roubando) aos outros! Até chegávamos a simular ataques aos tiros ou à bomba, pelos cabeços abaixo, para afugentar outros competidores e apoderarmo-nos de certo cepo/árvore que eles pretendiam. Uma vez, um proprietário de um cepo já velho, junto à estrada da Bairrada, resolveu ir passar parte da noite junto do seu cepo, para o guardar. Mas, creio que acabámos por lhe deitar o fogo, ali mesmo no local, um tempo depois do Natal, já que não o conseguimos levar...
Os madeiros eram guardados, escondidos em currais ou palheiros. No dia 24, à tardinha, era preparada a fogueira, com a colocação dos madeiros em pilha, juntamente com ramos e carquejas (ou até palha). À hora fixada, era então acesa, às vezes com a ajuda de óleo queimado, sobretudo se chovesse ou a lenha estivesse molhada. As labaredas e faúlhas iluminavam então o Largo da Fonte (actualmente Largo P.e José Alves Júnior), o local mais central da aldeia e, portanto, de eleição para todo o tipo de convívios e eventos...
Costumava, às vezes, entoar-se alguns cânticos (de Natal ou outros), ao redor da fogueira. Um, muito usado, tinha a seguinte letra: "Natal, Natal, filhoses com mel não fazem mal; Natal, Natal, filhoses com vinho não fazem mal"... Era uma noite especial de convívio, do mais salutar e genuíno...
Actualmente, as técnicas e tácticas para arranjar madeiros são outras, assim como o tamanho da fogueira!... Mas convém continuar a manter estas tradições...
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